Com o aumento da expectativa de vida e o crescente contingente de idosos no Brasil, torna-se cada vez mais pertinente pensar em meios de se promover um envelhecimento saudável, ou seja, envelhecer com o corpo saudável, a mente sã e manter relações satisfatórias com as demais pessoas. Atualmente, já fica claro que pensar em saúde não envolve apenas o corpo físico, abrange também a preocupação com a saúde do ponto de vista biopsicossocial e espiritual.

Pensar na saúde do corpo envolve manter hábitos de vida saudáveis, como alimentar-se bem, praticar atividades físicas e não se render a nenhum vício, além de consultar um médico regularmente e seguir suas orientações. Quando falamos do ponto de vista psicológico e social, faz-se necessária uma linha de raciocínio mais ampla. A seguir, serão levantados alguns pontos que nos auxiliam a refletir sobre como promover um envelhecimento saudável do ponto de vista psicossocial.

A primeira premissa é, desde a juventude, desmistificar o antigo e errôneo ideal de que o envelhecimento seria, necessariamente, sinônimo de surgimento de doenças ou de dependência. Algumas pessoas realmente passam por um processo de envelhecimento patológico, marcado pelo aparecimento de doenças relacionadas à idade, muitas delas incapacitantes, as quais acabam por interferir negativamente em sua qualidade de vida, gerando dependência e, muitas vezes, impossibilitando sua autonomia – capacidade de tomar decisões sobre sua própria vida. Porém, existem dois outros modelos de envelhecimento: o normal e o bem-sucedido.

O envelhecimento normal é caracterizado por um relativo equilíbrio entre as perdas comuns ao envelhecimento e os ganhos que também podem surgir nessa etapa da vida (esses ganhos e perdas serão mencionados a seguir). Já o envelhecimento bem-sucedido é aquele considerado acima da média das pessoas em geral: as perdas são mínimas e os ganhos superam as mesmas. Acabar com essa visão preconceituosa de que o envelhecimento, necessariamente, acarretará consequências desagradáveis àquele que envelhece e às pessoas ao redor do mesmo é um primeiro passo para um envelhecimento saudável.

Mudando-se essa visão, torna-se mais fácil para o idoso aceitar-se da forma como ele é, respeitando suas próprias habilidades e limitações, ou seja, para que o mesmo tenha uma boa autoestima. Algumas mudanças comuns ao envelhecimento, como a perda da jovialidade (aparecimento de rugas, cabelos brancos) e um pequeno declínio na memória, podem fazer com que o idoso tenha uma baixa autoestima, sinta-se menos confiante ou mesmo apresente distúrbios em sua autoimagem – a forma como ele se enxerga fisicamente. Essa percepção distorcida da realidade também interfere negativamente na qualidade de vida do idoso. Gostar de si mesmo, independente da sua idade e das mudanças normais que a mesma acarreta, é requisito essencial para se envelhecer de forma saudável.

Outro ponto essencial nesse sentido é aprender a lidar com as perdas. Ao longo da vida, é comum nos depararmos com diferentes perdas, algumas bastante impactantes, outras nem tanto. Normalmente, à medida que a pessoa envelhece, algumas perdas costumam aparecer, como, por exemplo, a saída dos filhos de casa, a aposentadoria (perda do emprego e do papel social de profissional numa sociedade que enfatiza muito esse ponto), a perda do cônjuge (viuvez ou divórcio), a perda dos irmãos e amigos da mesma faixa etária, dentre outras situações que podem interferir negativamente na qualidade de vida do indivíduo. Algumas dessas perdas são inevitáveis, o diferencial é aprender a lidar com elas de forma a minimizar sentimentos de incapacidade e depressão. Caso perceba que não está conseguindo sair do luto ocasionado pelas mesmas, não hesite em procurar ajuda profissional.

Associada às perdas, a percepção da morte também é outro fator decisivo para o bem-estar na terceira idade. O ser humano parece ser o único que tem consciência de sua própria finitude. Uma coisa é fato: se a morte não nos visitou na infância, na adolescência ou na idade adulta, é certo que virá na velhice. Não somos eternos e é saudável aceitar nossa própria finitude. Porém, também não fará bem para ninguém viver pensando quando a morte irá chegar. Viva cada momento de sua vida de forma única, não guarde ressentimentos e saiba aceitar a morte como uma parte normal do processo de desenvolvimento humano.

Felizmente, o envelhecimento também traz consigo alguns ganhos. O mais importante, a meu ver, é a sabedoria, uma virtude que aparece com o passar dos anos e se caracteriza como a aceitação da vida como ela é e foi, sem maiores arrependimentos. Essa sabedoria pode ser observada entre idosos que gostam de compartilhar seus conhecimentos com as demais gerações – conhecimentos estes adquiridos por sua própria história de vida, por seus erros e por seus acertos, resultado de uma trajetória de vida singular.

Para envelhecer bem, se faz importante manter relações sociais saudáveis – sejam com a família, com os amigos, com pessoas de diferentes idades. Algumas pessoas possuem uma tendência a se isolar da sociedade à medida que envelhecem, o que não é salutar. Assim como as relações sociais foram importantes na infância, na adolescência e na idade adulta, é importante que as mesmas aconteçam na terceira idade. A perda de pessoas que fizeram parte de grandes períodos da vida do indivíduo pode diminuir essas interações, porém, mesmo nessa etapa da vida, é possível conhecer pessoas novas, seja em casa, em grupos de convivência, na igreja. Não se isole!

Na mesma linha de raciocínio, também é importante manter-se ativo, o que, indiretamente, implica em relacionar-se com outras pessoas. Chegou o momento da aposentadoria, não quer parar de trabalhar? Trabalhe em meio expediente ou dedique-se ao trabalho voluntário. Não quer mais trabalhar? Aproveite o tempo para viajar, para curtir a família, para ingressar numa nova faculdade ou aprender um idioma. Descansar um pouco faz bem, todo idoso merece um tempo para o lazer, mas ficar ocioso em tempo integral abre espaço para sentimentos de inutilidade, solidão, dificulta as relações entre os familiares – grandes inimigos para uma boa qualidade de vida na terceira idade.

E, finalmente, não adianta manter o corpo ativo se sua mente não estiver também em atividade. A demência - um dos grandes vilões do envelhecimento saudável – é grande companheira de cérebros inativos. Portanto, leia mais, estimule a memória, aprenda coisas novas, use o computador, requeira mais do seu cérebro, para que ele não fique preguiçoso e passe a funcionar de maneira insatisfatória. E, caso observe que algo não esteja funcionando bem, procure logo um médico!

Luciene Corrêa Miranda é psicóloga clínica, mestre em Psicologia e professora na Escola de Enfermagem da Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora

Fonte: Portal Idmed