01 de jul de 2025
O globo ocular é o último órgão a ser retirado do corpo. Ao contrário do fígado e rins, não precisa ser extraído ainda com batimentos do coração. A córnea pode ser retirada seis horas após a ocorrência do óbito, ou até 24 horas, se o corpo estiver conservado em refrigeração.

Entretanto, enquanto cidades como Sorocaba e Curitiba levam cerca de apenas 30 dias para operar um paciente que necessita de um transplante de córnea, em Salvador, a falta de conhecimento por parte da população com relação a este procedimento, faz crescer cada vez mais a fila de pessoas que apenas precisam de uma córnea perfeita para corrigir a visão.

Segundo os especialistas em problemas da visão, o tempo de espera na fila da Bahia pode ser de até dois anos. Como o Hemoba, que está sempre precisando de doadores de sangue, o Banco de Olhos do Hospital Geral Roberto Santos, o único existente no estado, também experimenta a mesma situação.

Em média tem apenas cinco córneas guardadas para transplante. De agosto de 2007, quando começou a funcionar a Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT), os números de captação de córneas foram insuficientes e, somente no HRS, que também recebe doações de
outros hospitais, entre 2007 e 2010 foram feitas 242 doações.

De janeiro a julho deste ano aconteceram 34 doações. Nos últimos quatro anos e meio foram doados 484 globos oculares. Aproximadamente 700 pessoas foram beneficiadas. A maioria dos pacientes transplantados recebe apenas um globo ocular.

O médico Heraldo Moura, coordenador de transplantes da Secretaria de Saúde do Estado, informa que um novo sistema nacional de gerenciamento da lista permitiu o recadastramento de 1.200 pacientes o ano passado na Bahia.

Atualmente, 630 pessoas estão na fila aguardando um transplante de córnea. “Quem cadastra são os médicos credenciados pelo Ministério da Saúde. A Central de Transplante só gerencia”, explicou.

Conforme Heraldo Moura, na Bahia apenas 10% das famílias entrevistadas autorizam a doação do órgão. “Há um desconhecimento das pessoas e vários são os motivos para a não autorização da doação. O transplante de córnea não deforma o corpo por que uma prótese é colocada no lugar, mas o desconhecimento é o fator limitante pra que a gente possa atender estes 630 pacientes que aguardam pelo transplante.

A doação no Brasil só ocorre com a autorização da família, parentes de primeiro e segundo grau. Aqui já tivemos situação de não termos nenhuma córnea no banco para doação e o paciente precisar com urgência da córnea e esta ter que vir de outro estado, da Paraíba”, explicou.

Novos bancos de olhos

A boa notícia é que a Bahia, em breve, ganhará mais dois bancos de olhos: um em Vitória da Conqusita e outra em Itabuna. “Com isso a gente vai descentralizar a preservação da córnea, que geralmente vem para Salvador e depois retorna para estas cidades. A distribuição da córnea é igual para todos independente do poder aquisitivo.

O fato de se fazer o transplante por seguro de saúde ou particular, não dá nenhuma prioridade ao indivíduo na fila. Ele pode ter uma acomodação melhor no hospital, mas não no momomento da distribuição, que é igual para qualquer brasileiro. O transplante depende da conscientização da sociedade. Se ela não doa, não tem o tranplante e a própria sociedade não é beneficiada”, disse.

Um transplante de córnea custa em torno de R$ 2.500 e geralmente é pago pelo Sistema Único de Saúde. No ambulatório Magalhães Neto, do Hospital das Clínicas, dona Ivete Paim Nery, 80, era só alegria. Depois de esperar mais de um ano por um transplante foi chamada e fez uma cirurgia exitosa.

“Eu dei sorte”, dizia. “Tem gente que espera por mais tempo. Estou enxergando bem e muito feliz”, revelou, apesar de enfrentar dificuldades para marcar uma revisão. “No ano passado a gente fazia em torno de 20 transplantes por mês, mas este ano apenas uns quatro durante o mesmo período. Eu não sei o que
aconteceu, mas talvez seja pelo fato de não estar havendo uma campanha, porque existe um pico de doação toda vez que se faz uma campanha. As pessoas se sensibilizam mais. É preciso que também haja a mentalidade do transplante nas instituições para que qualquer óbito possa ser um potencial doador. A doação espontânea não é tão frequente”, enfatizou a médica Patrícia Marback, que opera no Hospital Edgar Santos.

O Hospital Santa Luzia, situado em Nazaré, referência em procedimentos da visão, não realiza transplantes há dois anos. “A reforma do nosso Centro Cirúrgico está sendo concluída e ainda este ano a gente vai passar a fazer transplantes de córneas aqui também, com capacidade para até 20 transplantes por mês”, informou o oftalmologista Alexandre Príncipe, vice-diretor da unidade, que observa ser necessário “uma equipe de profissionais em todos os passos, desde a abordagem eficiente da família para que aceite a doação, até a
captação em tempo ágil do órgão, transporte deste e acionar a equipe de transplante para que este seja feito de uma forma eficiente.

São vários grupos coordenados para que isto aconteça. Esta coordenação está melhorando, mas ainda precisa melhorar muito pra atingir a eficiência de bancos de olhos de cidades como Sorocaba e Curitiba”, ressaltou.







Fonte: Tribuna da Bahia Online