Não existem estudos ou estatísticas que apontem com exatidão o número de adultos e crianças vítimas de acidentes oculares no Brasil. Os especialistas, porém, são unânimes: eles ocorrem com muita frequência. O descuido, seja no ambiente de trabalho, durante o lazer ou mesmo dentro de casa, pode ter desfechos dramáticos. Os danos nem sempre são reversíveis, apesar dos grandes avanços na área da oftalmologia.
Ferimentos provocados por produtos de limpeza doméstica, perfuração por objetos ou estilhaços, além de queimaduras decorrentes do contato com substâncias químicas ou fontes de calor, são as ocorrências mais comuns. Levantamento parcial do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) demonstra que os acidentes oculares contabilizam mais de 150 mil casos por ano. Esse é o montante notificado, mas como a maioria das ocorrências não é registrada, médicos do CBO calculam que a quantidade real ultrapasse muito essa estimativa.
Eles alertam também que a maior parte dos acidentes poderia ser evitada. O oftalmologista Jonathan Lake pondera que a água sanitária e os produtos de limpeza são responsáveis pela maioria das lesões oculares ocorridas em casa. Os adultos menosprezam o perigo ao manusearem as substâncias e as crianças são atraídas por embalagens coloridas.
Nas duas situações, um respingo no globo ocular é suficiente para danificar a visão. O médico lembra que qualquer ferimento nos olhos é mais delicado para tratar. “Quando a pele é queimada ou ferida, a pessoa fica, geralmente, com uma marca que causa impacto funcional. Nos olhos, as cicatrizes podem comprometer a acuidade visual”, explica Lake.
Mesmo lesões aparentemente superficiais são capazes de prejudicar a visão permanentemente. Queimaduras provocadas por substâncias químicas são mais traiçoeiras do que aquelas causadas por fontes térmicas. “Se o produto químico não for removido o mais rápido possível, continua penetrando nos olhos, gerando reações inflamatórias e até perfurando os tecidos oculares”, alerta.
O risco pode vir até da água. O médico conta que atendeu uma criança que brincava com um compressor. O olho foi atingido com um jato d’água e o cristalino acabou comprometido. O trauma gerou uma inflamação intensa.
Na lavagem do banheiro de casa, gotas de água sanitária respingaram nos olhos da auxiliar administrativa Gabriela Pires Pacelli, 22 anos. Ela lavou o local com água, mas resistiu a procurar um médico. “Fui ao oftalmologista sete horas depois do acidente. Ardia muito, e a minha reação foi de esfregar o local com as mãos. Tive sorte de que a substância estava diluída em água, o que amenizou os danos”, conta.
Ocorrências comuns
Queimadura química: podem ocorrer no trabalho, com a manipulação de substâncias químicas, ou em casa, com produto de limpeza. Os produtos podem ressecar, destruir os tecidos e comprometer a visão.
Como socorrer: os olhos devem ser lavados com água corrente, por pelo menos 20 minutos. Em seguida, deve-se procurar o oftalmologista, se possível com o nome ou o rótulo do produto que atingiu o olho.
Queimadura térmica: causadas pelo contato direto de fontes de frio ou calor, geralmente lesam mais as pálpebras do que o globo ocular. O problema é que a pálpebra queimada sofre retração, deixando o olho menos protegido.
Como socorrer: lavar os olhos com água corrente e procurar um especialista o mais rápido possível.
Faísca de solda: é um tipo de queimadura provocada pela radiação ultravioleta que pode causar edema irreversível nos tecidos.
Como socorrer: é fundamental recorrer a um especialista.
Perfuração: acidentes dessa natureza são provocados por objetos cortantes, como tesoura, faca, vidro e arames.
Como socorrer: procura um especialista imediatamente.
Corpo estranho: é a entrada de objetos ou substâncias como pequenas partículas de madeira, areia, poeira, vidro ou insetos. Esses elementos causam sensação de ardência e dor.
Como socorrer: não tente retirar o corpo estranho sozinho. Procure um oftalmologista.
Trauma sem corte: mesmo as pancadas que não perfuram o globo ocular devem ser avaliadas por especialistas. Essas lesões podem traumatizar e descolar as estruturas sensíveis dos olhos e até levar a cegueira.
Como socorrer: o mais indicado é levar a vítima ao hospital para que o especialista avalie o dano.
Fonte: Jornal Zero Hora