04 de Mai de 2024
Uma dieta vegetariana estrita, definida como hábito de evitar o consumo de todos os produtos de origem animal, pode levar à deficiência de importantes vitaminas que são essenciais para a visão, advertem pesquisadores. Eles aconselham os vegetarianos a tomar suplementos vitamínicos. O aviso vem do caso de um paciente francês que perdeu sua visão como resultado de uma dieta vegetariana estrita, sem uso de vitaminas, levando à deficiência de vitamina B12. Esta vitamina é importante para a manter os nervos saudáveis, incluindo o nervo óptico que transmite os sinais dos olhos para o cérebro.

No The New England Journal of Medicine, pesquisadores do Groupe Hospitalier Pitie-Salpetriere em Paris, França, descreveram um caso envolvendo um paciente de 33 anos que era vegetariano desde a idade de 20 anos. Sua dieta não continha ovos, produtos lácteos, peixe ou proteína animal. Ele não tinha história de abuso de álcool e não fumava, e não estava tomando nenhum suplemento vitamínico. Na época em que foi examinado, o paciente recebeu o diagnóstico de neuropatia óptica grave em ambos os olhos, com visão ruim de 20/400 em cada olho. Como não existiam evidências de causas infecciosas para esta perda grave da visão, os pesquisadores colheram amostras de sangue para verificar deficiências vitamínicas. Eles encontraram que os níveis de vitaminas B1, B12, A, C, D, E, zinco e selênio estavam todos abaixo do normal.

Os pesquisadores trataram o paciente administrando multivitaminas orais e intramusculares até que seus níveis sangüíneos se normalizassem, mas a visão não foi recuperada. Eles concluíram que as deficiências nutricionais na dieta vegetariana do paciente, particularmente quantidades insuficientes de B12 absorvidas, podem ter sido a causa da deterioração dos nervos ópticos e resultando em cegueira. Eles observam que estas lesões no nervo óptico podem ser irreversíveis.

"A suplementação vitamínica é essencial em pessoas que aderem a uma dieta vegetariana estrita, especialmente por que as deficiências vitamínicas podem causar lesões graves e irreversíveis no nervo óptico," conclui a equipe.

Chris Rosenbloom, nutricionista e porta-voz da Associação Americana de Dietética (ADA), demonstra a diferença entre os tipos de dieta vegetariana. "Este estudo pode assustar as pessoas com relação à dietas vegetarianas, e existem muitas diferenças entre a dieta vegetariana estrita e a não estrita."

Uma dieta vegetariana estrita pode ser muito restritiva na qual a falta total de produtos animais na dieta está muito aquém das escolhas feitas por muitos vegetarianos que simplesmente evitam carne vermelha ou leite integral. "É importante que qualquer pessoa que adote uma dieta vegetariana estrita faça uma consulta nutricional antes de adotar este regime," ela disse. "Consultar um nutricionista registrado é uma opção. A ADA também tem um livro sobre o assunto chamado "Ser Vegetariano", que é útil. Encontrar estes tipos de fonte de informação é muito importante", completa.

Contudo, qualquer pessoa preocupada em monitorar seus hábitos alimentares deve compreender que nem todos os livros e revistas que discutem opções dietéticas merecem crédito. "Às vezes quando pessoas se comprometem com algo que é radical elas podem não ter todos os recursos à sua disposição," ela observa. 
"Assim existem muitas pessoas que aconselham estas opções que podem não ser especialistas no assunto."

Para aqueles que escolhem uma dieta vegetariana estrita, Rosenbloom enfatiza que esta dieta não leva necessariamente à deficiências nutricionais. "Não existem motivos para que alguém seja vegetariano estrito, mas muitas pessoas podem escolher esta forma por causas ambientais ou ecológicas e isto pode ser muito útil. Mas você deve seguir o caminho certo. Apenas excluir produtos animais não levará à boa saúde – você deve aprender a respeito do que você necessita", adverte a nutricionista.

"Eu tenho certeza que este é um caso extremo," ela acrescenta, "mas um estudo de caso mostra às pessoas o que pode acontecer, então elas devem estar vigilantes quando escolhem um programa alimentar assim e ter certeza de que estão bem informadas sobre o assunto", conclui.



Fonte: The New England Journal Of Medicine