18 de Abr de 2024
A divulgação de mais uma inovação tecnológica digna da ficção científica alimentou as esperanças de milhares de vítimas de doenças oculares degenerativas na semana passada. Pela primeira vez na história, um implante digital foi capaz de restaurar parte da visão de três vítimas de distrofia hereditária da retina, um mal que leva progressivamente à cegueira. O feito foi alcançado por pesquisadores da Universidade de Tübingen, na Alemanha, e envolve a aplicação de um chip equipado com 1.500 receptores de luz. Eles são capazes de processar imagens digitalmente e de transformá-las em impulsos depois direcionados ao nervo óptico e ao cérebro. Segundo os responsáveis pela pesquisa, o objetivo é lançar o implante no mercado em cinco anos. Dessa forma, cerca de 200 mil portadores de retinose pigmentar, que provoca a falência parcial ou total da retina, e outros milhões de pacientes com degeneração macular, um problema relativamente comum entre idosos, também terão chances de recuperar a visão.

No entanto, estamos diante dos primeiros resultados de um trabalho que deve ser aperfeiçoado nos próximos anos. As imagens captadas pelo chip são em preto e branco e ainda estão muito longe de imitar o trabalho do olho humano à perfeição. “Ainda não atingimos um ponto de excelência, mas conseguimos fazer com que nossos pacientes enxerguem coisas como uma mesa, um garfo ou até mesmo um rosto”, disse Eberhart Zrenner, diretor do centro de pesquisas oftalmológicas de Tübingen.

Outro detalhe importante é a limitação do tratamento a lesões na retina, se o nervo óptico foi afetado, nada pode ser feito ainda. Por outro lado, a melhora instantânea na qualidade de vida dos voluntários revela o poder transformador do chip instalado em suas retinas.

Mika Terho, um finlandês de 46 anos, é um deles. Ele começou a perder a visão aos 16, quando percebeu que não conseguia mais acompanhar os amigos em passeios noturnos de bicicleta. Aos 30, ficou cego do olho esquerdo. O mesmo aconteceu com o direito cinco anos depois. “Ainda tinha um pouco de visão periférica, mas não o suficiente para reconhecer uma coisa sequer. O máximo que conseguia era distinguir a noite do dia”, afirmou Terho em um vídeo divulgado pelos pesquisadores alemães.

Os médicos levaram cerca de seis horas para implantar o chip na retina dos voluntários. Primeiro, eles abriram uma pequena aba na parte interna do olho e nela instalaram a minúscula placa de 9 mm2. Um fio finíssimo foi acoplado a ela e ligado a uma bateria instalada atrás da orelha dos pacientes. “As coisas começaram a acontecer em questão de horas”, disse Terho. “Eu olhava para as pessoas e elas pareciam fantasmas de um filme em preto e branco. Aí tudo ficou mais claro. Ajustamos o chip para deixar as imagens cada vez mais nítidas. Comecei a me sentir como um piloto de testes de uma equipe de Fórmula 1”, finalizou o finlandês.


Fonte: Istoé