Você já tomou aquela bronca da mãe quando era criança e queria ficar muito perto da televisão, ou queria ficar assistindo a filmes e desenhos por muitas horas contínuas? O argumento geral era de que as telas faziam mal para a vista. Mas e hoje em dia, que todos estamos de olho nas telas praticamente a todo tempo que estamos acordados? Se não é a própria televisão em si, é o notebook. Se não é o notebook, é o nosso principal companheiro no cotidiano: o celular.
Em 2019, uma mulher na China perdeu temporariamente a visão no olho esquerdo após usar o smartphone para jogar durante toda a madrugada. Seu nome não foi divulgado, mas segundo o médico que a tratou, o problema foi um estresse excessivo que resultou em um vaso estourado, efetivamente criando bolsas de sangue que lhes bloqueavam a vista. Na ocasião, a paciente ficou acordada a noite toda, jogando em seu aparelho móvel e, na manhã seguinte, ela acordou, pegou o telefone e começou a usá-lo de novo. Cerca de cinco minutos depois, ela descobriu que estava incapaz de enxergar por meio do olho esquerdo. Um tratamento a laser criou um pequeno buraco na retina da paciente, permitindo que o sangue escoasse e a visão dela fosse restaurada.
Mas então isso quer dizer que as telas realmente fazem mal? Se nossas mães estavam certas e olhar por muito tempo para a televisão cansava a vista, como isso se aplica aos celulares? E será que elas estavam corretas mesmo? De acordo com o Dr. Leon Grupenmacher, oftalmologista e professor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), as telas não são inimigas, desde que usadas de forma adequada. O que acontece, segundo o especialista, é que ao utilizar as telas, nós fixamos o olhar. Normalmente, nós piscamos várias vezes por segundo, entretanto, quando a gente fixa o olhar, praticamente não piscamos os olhos para não perder a atenção — e com essa diminuição do movimento a lágrima não é distribuída.
Oftalmologistas esclarecem se as telas (notebook, televisão, celular) realmente fazem mal para a vista ou não
"A lágrima tem função de lubrificar o olho e deixar a superfície ocular lisa, transparente, para que os raios passem, deixando a visão melhor. Se não se tem essa lágrima, consequentemente, não se tem uma visão nítida. Por isso, não se deve ficar muito tempo em frente à tela", explica.
O profissional menciona que alguns estudos, ainda em análise, mostram que há tendência de aumentar o grau de miopia por uso excessivo do músculo que faz a miose (fechamento da pupila). Principalmente em relação às crianças, que estão em desenvolvimento. É recomendado que uma criança não fique mais do que duas ou três horas por dia em frente a uma tela, justamente porque o aumento da miose leva à miopia. "De acordo com alguns estudos asiáticos, o uso da tela pode aumentar a miopia".
Por sua vez, o Dr. Fernando Zeitounian, médico oftalmologista da DaVita Serviços Médicos, observa que o olhar fixamente para a tela de um computador, assim como olhar para uma TV, para um livro ou para o olho durante uma cirurgia de catarata, por exemplo, faz com que pisquemos menos, forcemos a musculatura interna e a externa dos olhos. Fadiga visual transitória e olho seco são comuns nesses casos.
De acordo com o Dr. Leon Grupenmacher, a prevenção é feita fixando o olhar em intervalos regulares. Ele indica que a cada 40 minutos ou uma hora seja “quebrada” a atenção das telas, para que seja possível voltar a piscar regularmente. "Com isso vai ter uma lubrificação maior, evaporação da lágrima e as queixas de problemas podem ser menores. Caso necessário, é preciso utilizar óculos adequados para ficar em frente ao computador", o oftalmologista explica.
Ele ainda relembra que existem alguns filtros de tela, como os de coloração azul, que teoricamente podem ajudar. "Na tela não faz muita diferença, já nos óculos sim, porque há uma gama de filtragem dos raios UV que supera os outros casos. A distância ideal indicada entre o indivíduo e a tela é de 30 a 40 centímetros", disserta. "O que faz mal é usar a visão da maneira errada, sem o descanso, sem piscar, que acaba ocasionando as doenças oculares", define Dr. Leon.
Para Dr. Fernando, a fórmula é diferente, mas obedece o mesmo intuito, que é descansar a vista. "Utilizo uma regra bem simples chamada 20-20: a cada 20 minutos de trabalho no computador ou celular, tire o foco da tela, olhe para longe (mais de 6 metros de distância) por 20 segundos e pisque várias vezes", aconselha o profissional.
Profissionais recomendam consultar um oftalmologista imediatamente para que o profissional possa avaliar qual o melhor uso para cada paciente
Dr. Fernando ainda acredita que não haja diferença entre telas e todas são seguras do ponto de vista médico. "Recomenda-se uma distância moderada que não mude sua postura e não venha a causar problemas ortopédicos. Quanto a filtros, a diminuição da intensidade do brilho pode dar mais conforto e diminuir a fadiga visual, sem necessidade de filtros especiais".
Já falando sobre modos noturnos nos smartphones, Dr. Fernando diz que os filtros atuais são recomendados, pois a exposição à luz azul deixa a pessoa mais "ligada", podendo causar insônia. Ao se diminuir a luz azul, diminui-se a chance de insônia e favorece um sono mais tranquilo. Além disso, o oftalmologista ainda relembra: "Há o mito de que estudar em situações de baixa luminosidade faz mal à visão. A pessoa pode sentir mais dificuldade para enxergar pela pouca luz, mas isso não trará prejuízos persistentes à visão".
Questionados sobre quais os sintomas mais comuns, que devem acender as primeiras luzes no painel, os oftalmologistas apontam que a diminuição da lubrificação ocasiona os sintomas de ardência ocular, visão embaçada, olhos vermelhos, lacrimejamento, cansaço e até dor de cabeça. Em casos de olho seco, consequência mais comum observada, o uso de colírio lubrificante prescrito pelo oftalmologista pode reverter a situação momentaneamente.
No entanto, depois que for diagnosticada alguma doença relacionada ao uso excessivo de telas, a orientação para a manutenção da saúde ocular é consultar um oftalmologista imediatamente para que o profissional possa avaliar qual o melhor uso para cada paciente.
Fonte: Portal CanalTech