23 de Abr de 2024

Movimentos repetitivos, rápidos e involuntários sem finalidade específica, os tiques nervosos podem ser motores ou vocais e afetar rosto, pescoço, ombros, mãos. Entre alguns deles: fazer careta, estalar os dedos, pigarrear a garganta, fungar o nariz e estalar a língua no céu na boca. "Nos olhos, se manifestam principalmente como uma série de piscadas", explica Yuri Busin, psicólogo e diretor do Casme (Centro de Atenção à Saúde Mental - Equilíbrio), em São Paulo. "Podem ser temporários e até se intensificam pelo estresse e ansiedade", acrescenta Busin.

Quando múltiplos, ou estão presentes antes dos 18 anos e várias vezes ao dia, ou quase que diariamente, por três meses consecutivos a um ano, é quase certo estarem relacionados a um distúrbio neuropsiquiátrico chamado síndrome de Tourette. Ou então a transtornos de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e obsessivo-compulsivo (TOC) e Parkinson. Porém, em se tratando do piscar intenso, nem sempre a causa é neurológica ou psiquiátrica. Essa condição pode surgir em razão do uso de substâncias estimulantes (café, energéticos), consumo excessivo de medicamentos, espasmos nos músculos próximos aos olhos provocados pelo cansaço, alterações oculares (olho seco, conjuntivite, estrabismo intermitente), presença de algum corpo estranho (cílio, detritos) e até sequelas de cirurgias oculares e palpebrais.

Cegueira e falha no abre-fecha

De acordo com Rita de Cássia Lima Obeid, oftalmologista especialista em plástica ocular e vias lacrimais, quando o fechamento repetitivo e involuntário dos olhos é persistente podem ocorrer problemas. Alguns brandos, como sensibilidade à luz e irritação, mas também outros que podem exigir cuidados maiores para que não evoluam mal. "Eventualmente, esse piscar descontrolado pode levar à cegueira momentânea, com um embaçamento visual. Casos extremos nos quais o paciente apresenta alguma fragilidade retiniana [da retina] podem até cursar em alterações intraoculares", informa. Nesses casos, há risco de o paciente ter um comprometimento de funções como caminhar, dirigir e trabalhar. Ainda falando de danos oculares, um piscar frenético e com contração muito forte pode ocasionar disfunções palpebrais, dores e enrijecimento prolongado dessa região. A pálpebra ainda fica propensa a se dobrar para dentro, fazendo com que os cílios toquem e machuquem a superfície do globo. Mas o contrário também é possível, ou seja, ela dobrar para o exterior.

Problemas não só na visão

O piscar excessivo influencia também espasmos faciais, então o rosto parece tremer, e uma ptose de pálpebra, que é quando a pele da parte superior recai sobre o olho. Pelo peso dela, córnea e, às vezes, pupila acabam encobertas e a pessoa tem dificuldades para elevar o olhar. O quadro tende a piorar com o uso prolongado de lentes e a presença de bolsas de gordura. Tem mais, se o piscar com frequência ocasionar atrito ou tração demasiados na região dos folículos há risco de perda acentuada dos cílios, conhecida como madarose ou alopecia ciliar. "Se evoluir para uma cicatrização, pode não nascer mais cílios", alerta Isabela Faiad Leiba, dermatologista pela Fundação UnirG (Universidade de Gurupi). O dano associado com alguma patologia, como a blefarite (inflamação das pálpebras normalmente na margem dos cílios) é ainda pior. "Além da perda acentuada dos cílios e que torna o olho sujeito à agressão externa por poeira e microrganismos, há prejuízo estético [porque há inchaço, secreção e vermelhidão]", complementa outra dermatologista, Camila Stangarlin, da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

Como faz para piscar normal? 

Tratando, mas a escolha do método vai depender do que há por trás. Se o piscar anormal não for recorrente e o diagnóstico não apontar nenhum tipo de transtorno ou causa nessa linha, mudanças simples podem resolver, como descansar a visão (o que inclui deixar telas de lado e usar óculos com grau certo), além de evitar situações de estresse e o consumo de alimentos com potencial energético. Agora, constatada uma patologia, ocular ou psiconeurológica, entram em cena para combatê-la medicamentos (colírios antibióticos, anti-inflamatórios, relaxantes musculares, ansiolíticos, antidepressivos), sendo que terapia cognitivo-comportamental é complementar nesse último caso, bem como massagens terapêuticas, acupuntura e quiropraxia. Partir para a miectomia, cirurgia de remoção de músculos e nervos da pálpebra, é raro, mas ajuda a aliviar os tremores. 

"Essa cirurgia era mais usada no passado. Hoje, em consultório e apenas com anestésico local, fazemos aplicação de toxina botulínica na lateral dos olhos. Esse procedimento estético dura 15 minutos, paralisa o músculo orbicular e ainda evita pés de galinha. Os efeitos começam a ser notados entre três e quatro dias e por completo em 15 dias, durando de quatro a seis meses", esclarece Wendell Ughetto, cirurgião plástico do Hospital Israelita Albert Einstein (SP).

 

 

 

 

 

Fonte: Portal UOL