26 de nov de 2024

Apesar de aparentemente inofensivo, tremor nas pálpebras pode ser indício de que algo não vai bem com a parte física e mental

Tremor

O alerta foi sentido no consultório dos oftalmologistas. Há um movimento crescente de pacientes com uma queixa de um problema aparentemente inofensivo: o tremor nas pálpebras. O que pouca gente sabe é que a contração súbita e involuntária dosmúsculos na região ocular, também conhecidacomo mioquimia palpebral, pode ser indíciode que algo não vai bem com a saúde. No caso da aposentada Abadia Aparecida Ferreira, de 75 anos, a situação ficou tão desconfortável que ela precisou de ajuda especializada.

“Comecei a ter crises de tremor nas pálpebras dos dois olhos de maneira contínua. Acabou afetando a minha visão e tirando a qualidade de vida. A sensação é que tinha areia no meu olho, de que algo o estava irritando permanentemente”, explica Abadia, que tem como hobby a costura de roupas. No caso dela, após criteriosa avaliação médica, o tratamento recomendado foi feito com a injeção de toxina botulínica, o botox. A cada quatro meses, ela repete a aplicação e garante que os tremores pararam completamente.

De acordo com os especialistas, o tremor palpebral geralmente é sinal de cansaço, ansiedade, nervosismo ou excesso de trabalho. “Estresse, uso abusivo de cafeína e substâncias estimulantes e dormir menos que o necessário podem colaborar para o problema”, ressalta o médico oftalmologista Dr. José Eduardo Simarro Rios. Doenças como o blefaroespasmo essencial, relatado por muitos pacientes como um tique nervoso e que pode ter origem neurológica ou vascular, também causam os tremores nas pálpebras, semelhante a uma câimbra em alguma outra parte do corpo.

As pálpebras são as pregas de pele que recobrem os olhos. Elas são compostas por mais estruturas além da pele. Entre essas, as glândulas, que contribuem com componentes da lágrima que lubrifica o olho, os cílios, que auxiliam a proteger o olho, e os músculos que, ao contraírem-se, promovem a abertura e o fechamento delas. Adolescentes e adultos até os 40 anos que estão passando por alguma situação de estresse estão mais propensos a ter tremores na região. Para José Eduardo, a pandemia da Covid-19 fez com que houvesse um aumento no número de casos. “O uso abusivo de telas contribui com maior estresse da musculatura ao redor dos olhos e também pode levar à insônia”, explica. O médico ressalta que qualquer tremor, repuxamento ou fechamento involuntário dos olhos, principalmente se for persistente, merece a avaliação de um especialista. No caso da mioquimia palpebral, como ocorre na musculatura fina dos olhos e tem intensidade leve, ela não tem potencial decausar lesões oculares.

Já o blefaroespasmo essencial merece uma atenção especial. Ao contrário da mioquimia, o sintoma não é um tremor, mas o piscar involuntário de olhos. “Em casos graves, a pessoa não consegue abrir os olhos e ocorre piora dos sintomas em situações como cansaço, luz intensa e ansiedade. O diagnóstico é feito buscando as suas principais causas, que são doenças neurológicas, aneurismas, além da irritação das pálpebras e da córnea”, explica o médico.

Na maioria dos pacientes, o tremor palpebral é um sinal de estresse, ansiedade e cansaço físico. “O cortisol, que é o hormônio do estresse, estimula o sistema nervoso autônomo que manda estímulos para as pálpebras provocando contrações involuntárias e repetitivas das fibras do músculo orbicular. A carência de algumas vitaminas do complexo B e magnésio já foi descrita como causadora desse evento. Gestantes costumam apresentar essa queixa no consultório oftalmológico e muitas vezes são tratadas com a reposição dessas vitaminas”, explica a médica oftalmologista Dra. Larissa Stival. O diagnóstico deve ser feito por um oftalmologista por intermédio de um minucioso exame oftalmológico. “Em casos mais graves de blefaroespasmo, pode ser necessária a avaliação de um neurologista para exclusão de eventos cerebrais e outras síndromes neurológicas”, explica a médica.

O tremor das pálpebras pode ocorrer em qualquer idade. Porém, nos últimos anos, a maioria dos pacientes com essa queixa no consultório inclui adultos jovens que passam horas trabalhando em frente às telas ou aqueles que passam horas concentrados em atividades que envolvem muita leitura.

Tratamento com botox

Os tremores nas pálpebras geralmente desaparecem sem a necessidade de tratamento específico. Porém, se a situação durar muito tempo, for muito frequente e provocar o relaxamento da pálpebra, afetando a visão, é importante consultar um médico para indicar o tratamento mais adequado O tratamento quando necessário é feito com toxina botulínica, o botox, na musculatura ao redor dos olhos. Ele é inclusive coberto pelos planos de saúde nos casos mais avançados. Com o botox, são raros os pacientes que necessitam de cirurgia.

O médico neurologista Dr. Rodrigo de Souza Castro explica que, muito raramente, espasmos oculares podem ser um sinal de distúrbios do sistema nervoso. “Quando isso ocorre, o tremor da pálpebra quase sempre é acompanhado por outros sinais e sintomas neurológicos. Os distúrbios do sistema nervoso que podem causar espasmos nos olhos incluem paralisia de Bell, distonia cervical, esclerose múltipla, distonia oromandibular e distonia facial, doença de Parkinson, síndrome de Tourette e AVC”, explica.

Para ele, os altos níveis de estresse e ansiedades provocadas por conta da pandemia e da incerteza diante do futuro acabaram aumentando a incidência da queixa nos consultórios. “A intensidade do tremor nos olhos pode variar de quase imperceptível a até contrações incômodas. O tremor geralmente desaparece dentro de poucos segundos, mas pode ocorrer diversas vezes ao dia ou durar horas ou até dias, dependendo da causa”, ressalta.

Quando procurar ajuda

Os sinais de alerta para procurar um médico ao sentir tremor nas pálpebras são:

  • O tremor é frequente e dura várias semanas;
  • A pálpebra fecha completamente a cada contração ou a pessoa tem dificuldade de abrir o olho;
  • Os espasmos também acontecem em outras partes do rosto ou corpo;
  • O olho está vermelho, inchado, com sensação persistente de corpo estranho ou secreção;
  • As pálpebras estão caídas;
  • A pessoa tem sintomas neurológicos associados, como alteração da fala, dificuldade para andar ou fraqueza muscular.

 

 

 

 

Fonte: O Popular