No primeiro semestre do ano a fila de transplante aumentou 200% em comparação ao mesmo período de 2020
A pandemia de Covid-19 reduziu diversas cirurgias para dar espaço aos pacientes contaminados pelo coronavírus nas UTIs dos hospitais. Dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) mostram que já no primeiro semestre do ano passado diminuiu em 44% os transplantes de córnea no Brasil. Pior: o levantamento aponta aumento de 200% na fila de espera pelo transplante. Passou de 5,9 mil inscritos em junho do ano passado para 17,5 mil no final do primeiro semestre deste ano. Segundo o oftalmologista Dr. Leôncio Queiroz Neto, o enxerto também é realizado em hospitais especializados que não têm covidários ativos, mas o isolamento social somado ao medo do coronavírus fez muitos pacientes falharem no tratamento das doenças oculares. “O transplante é o último recurso para tratar o ceratocone que responde por 7 em cada 10 enxertos de córnea no País”, afirma. O índice é tão alto porque no início da doença os sintomas são visão embaçada e desfocada como acontece no astigmatismo. A diferença do ceratocone é o enfraquecimento progressivo das fibras de colágeno da córnea, lente externa do olho que toma o formato de um cone. “Esta deformação faz a luz entrar distorcida nos olhos e resulta em visão desfocada”, afirma o médico.
Fatores de risco, sintomas e diagnóstico
Queiroz Neto ressalta que o ceratocone atinge cerca de 100 mil brasileiros. É uma doença multifatorial que geralmente aparece na infância ou adolescência. Pode estar relacionado à genética quando há casos na família, ser desencadeado por doenças alérgicas na pele ou vias respiratórias que em 70% dos casos causam coceira nos olhos, maior fator de risco do ceratocone. Locais empoeirados e estiagem prolongada que ressecam a lágrima também funcionam como gatilhos. Um levantamento feito pelo médico com 315 portadores de ceratocone mostra que a incidência de olho seco nos portadores da doença é de 24%, contra 12% em toda população. Os principais sintomas do ceratocone elencados pelo médico são: troca frequente do grau dos óculos, visão de halos noturnos, aversão à luz do sol, maior fadiga visual e olhos frequentemente irritados. O diagnóstico não pode ser feito por um exame oftalmológico de rotina sem a tomografia da córnea que avalia a espessura, face anterior e posterior da córnea. Isso porque, as principais características do ceratocone são o afinamento e a deformação da córnea.
Tratamentos
Inicialmente a correção visual é feita com óculos, mas conforme a doença progride é necessário substitui por lente de contato rígida que aplana a córnea e permite melhor correção da visão. O oftalmologista afirma que o único tratamento capaz de minimizar a progressão do ceratocone é o crosslinking. Trata-se de uma cirurgia ambulatorial em que o cirurgião aplica na córnea riboflavina, vitamina B2 associada à radiação ultravioleta. Esta associação reticula as fibras de colágeno e aumenta em até três vezes a resistência da córnea, visando evitar o transplante. O especialista destaca que nem todos podem passar pela cirurgia. É necessário ter, no mínimo 400 micras de espessura na córnea.
Nos casos avançados as irregularidades na córnea pode tornar o uso da lente muito desconfortável. Uma alternativa para escapar do transplante é a substituição por lente escleral cuja borda se apoia na esclera, parte branca do olho, invés de ficar apoiada na borda da córnea.
Outra alternativa é o implante de anel intercoreano. A técnica consiste no implante de dois arcos que pode ser feito manualmente ou a laser. O especialista explica que o dispositivo faz uma pressão sobre a córnea e diminui a alteração na curvatura, melhorando a adaptação às lentes de contato. Na maioria dos casos a visão também melhora. Sem estes tratamentos só resta o transplante e depois da pandemia a espera pela cirurgia pode demorar mais de um ano.
Fonte: assessoria de comunicação do Instituto Penido Burnier