Entre 80% e 90% das perdas de visão em um dos olhos poderiam ser evitadas. Entenda
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que no Brasil 2,1 milhões de pessoas não enxergam de um olho. É a monovisão que pode afetar desde bebês até jovens e adultos. A boa notícia é que até 23 de março deve ser sancionada no País uma nova lei que a define como deficiência. Já recebeu mais de 100 mil apoios da população no portal do senado. Está sendo intitulada “Amalia Barros” em homenagem à jornalista que milita em prol desta causa desde que perdeu o globo ocular esquerdo por toxoplasmose.
De acordo com o oftalmologista e membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), Dr. Leôncio Queiroz Neto, a OMS classifica como cegueira monocular pessoas que enxergam até 10% no pior olho. “Nesta condição a perda do campo visual é de 25%. A visão de profundidade e a percepção espacial também ficam comprometidas”, salienta. Por isso, quem enxerga só com um olho não pode ter habilitação profissional para conduzir ônibus e caminhão ou pilotar avião. O especialista que também é perito em medicina do tráfego e membro da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (ABRAMET) afirma que a monovisão permite ao portador conduzir veículos de pequeno porte, mas a aprovação no exame médico requer 70% de acuidade visual no melhor olho, contra o mínimo de 50% para quem tem visão binocular.
“Parasita na areia da praia me cegou um olho”, diz veterinária
A médica veterinária, Elizabeth Artigozo (39) enxerga 100% com o olho direito, mas tem dificuldade quando precisa dar ré no carro, comenta. Ela conta que aos quatro anos de idade ficou totalmente cega do olho esquerdo brincando na areia da praia. “Na época era um caso raro e de difícil diagnóstico. Não tinha dor e meus pais só me levaram ao oftalmologista quando perceberam meus olhos vermelhos”, afirma. Após muitas consultas e exames veio o diagnóstico – toxicaríase, uma infecção causada pelo toxicara. O parasita é comum nas fezes de cachorros e gatos que algumas pessoas levam para a praia e deixam as larvas na areia. A contaminação causou perfuração e descolamento de retina, entre outras alterações irreversíveis no olho esquerdo de Elizabeth que provocaram a cegueira monocular.
Queiroz Neto afirma que até hoje os casos de toxocaríase não são frequentes. Geralmente ocorrem entre quatro e seis anos e são diagnosticados em um exame de rotina. O especialista alerta aos pais que as mãos são importantes veículos de outras doenças oculares infecciosas. As mais comuns são a conjuntivite e a ceratite, inflamação da córnea, mais frequentes em quem usa lente de contato. O primeiro exame oftalmológico deve acontecer quando a criança completa um ano. O segundo aos três anos quando os pais usam óculos ou aos quatro anos quando não usam e ser repetido no início do processo de alfabetização para garantir o aprendizado.
“Mesmo com monovisão, consegui me adaptar bem às atividades do cotidiano porque não enxergo com o olho esquerdo desde criança,” diz Elizabeth. “Nas aulas eu me sentava sempre ao lado esquerdo da sala para ter maior amplitude de visão. Fui quebrando as barreiras da deficiência. Há oito anos me formei em Veterinária e cuido de pequenos animais”. conta. Na opinião dela, quando uma pessoa fica cega de um olho na idade adulta a adaptação é mais difícil e por isso esta lei é bastante importante.
Prevenção
Queiroz Neto afirma que entre jovens e adultos os acidentes de trabalho e trânsito são a principal causa da deficiência. Isso porque, podem causar perfuração da córnea, descolamento da retina, lesão no nervo óptico ou outra estrutura do globo ocular. Para evitar acidentes recomenda o uso de óculos de proteção ou EPI que previne 90% dos ferimentos. O oftalmologista alerta que a visão monocular de nascença pode ser causada por doenças infecciosas contraídas pela mãe durante a gestação como a rubéola, sarampo, sífilis ou toxoplasmose. A toxoplasmose é causada por frutas e verduras mal lavadas ou carnes malcozidas. A doença pode ser flagrada ainda na gestação por meio de um exame de sangue que não tem contraindicações para a gestante. Em caso positivo, o tratamento do bebê é feito com antiparasitário ao longo do primeiro ano de vida.
A criança, ressalta, também pode nascer com catarata ou glaucoma congênito e retinoblastoma. Estas doenças são diagnosticadas pelo teste do olhinho logo que o bebê nasce e devem ser tratadas o quanto antes. O problema é que este teste ainda não é obrigatório em todo o país. Em São Paulo apesar da obrigatoriedade, nem sempre é realizado. Por isso, a recomendação do especialista aos pais é levar o bebê para fazer o teste logo que a mãe recebe alta da maternidade.
Fonte: assessoria de comunicação do Instituto Penido Burnier