Estudo publicado na JAMA Ophthalmology mostra que a miopia, dificuldade de enxergar à distância, é o efeito mais expressivo para a saúde dos olhos durante a pandemia do novo coronavírus. Realizado na China com mais de 120 mil crianças entre 6 e 13 anos, o levantamento faz parte de uma pesquisa longitudinal que vem sendo coordenada desde 2015 por Jiaxing Wang. A análise dos exames após o lockdown de cinco meses em 2020 mostra que em comparação aos anos anteriores o isolamento aumentou 400% a prevalência de miopia em crianças com 6 anos de idade. Nos participantes com 7 anos o aumento foi de 200% e aos 8 anos de 40%.
Para o oftalmologista Dr. Leôncio Queiroz Neto este estudo evidencia a influência de dois componentes relacionados ao estilo de vida no desenvolvimento da miopia precoce. Um é a falta de atividades ao ar livre e consequentemente da exposição ao sol. Isso porque, o contato com o sol estimula a produção de dopamina, hormônio do bem-estar que controla o crescimento axial do olho. O outro é o excessivo esforço visual para perto. Estas duas variáveis influem no aparecimento da miopia porque nossos olhos se desenvolvem até a idade de oito anos e neste período a modulação da visão é mais sensível aos fatores ambientais. Por isso, o especialista acredita que a miopia precoce diagnosticada na China tem um componente encontrado em um levantamento que realizou no hospital com 360 crianças de seis a nove anos que diariamente passavam horas usando eletrônicos. Neste grupo 21% apresentaram dificuldade de enxergar à distância, contra a prevalência de 12% apontada pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) para esta faixa etária. O oftalmologista esclarece que se trata de uma alteração transitória. A miopia acomodativa é decorrente do excesso de esforço visual para enxergar próximo, que provoca o espasmo dos músculos do olho responsáveis pela alternância do foco para perto, meia distância e longe.
Risco e prevenção
Queiroz Neto afirma que do ponto de vista clínico a descoberta da miopia precoce é bastante relevante. Isso porque, quanto antes uma criança se torna míope maior é a chance de na idade adulta ter alta miopia caracterizada por seis graus ou mais. “É preocupante porque em altos míopes o comprimento axial do olho é mais longo, fragiliza a retina, e por isso um em cada três tem deficiência visual grave causada por descolamento de retina, degeneração retiniana ou glaucoma”, salienta.
O oftalmologista ressalta que a primeira medida para controlar a miopia causada pelo estilo de vida é intercalar as atividades ao ar livre com o uso dos eletrônicos no dia a dia, inclusive durante a pandemia. O médico destaca que a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é evitar mais de duas horas ininterruptas diante de uma tela durante a infância. Para atender a demanda da criança por tecnologia orienta intercalar o uso respeitando o tempo preconizado pela OMS com atividades ao ar livre e exposição ao sol. Outra recomendação preventiva é evitar o consumo exagerado de açúcar que também interfere no crescimento do olho. O limite diário de consumo preconizado pela OMS são cinco colheres de chá ao dia.
Terapias de controle
O oftalmologista destaca duas terapias de controle da miopia: colírio de atropina diluído a 0,01% e lente ortoceratológica. O colírio reduziu em 50% a progressão da miopia em um estudo internacional. O problema é que embaça a visão, causa fotofobia e ardência nos olhos. Por isso nem sempre é bem tolerado pela criança. A lente ortoceratológica é rígida e deve ser usada durante a note para aplanar a córnea e eliminar a necessidade de usar óculos durante o dia. A mais nova versão desta lente foi desenvolvida com uma tecnologia que eliminou o desconforto experimentado nas versões anteriores. É portanto uma boa opção para quem não pode passar pela cirurgia refrativa e quer se livrar os óculos desde que o grau seja moderado, conclui.
Fonte: assessoria de comunicação do Instituto Penido Burnier