19 de Abr de 2024

Todo mundo já passou pela situação: depois de horas a fio diante da tela do computador, a visão começa a ficar embaçada e os olhos, vermelhos. Para piorar, o escritório climatizado deixa os olhos ainda mais irritados. A sensação de ardor e areia nos olhos incomoda tanto que você não vê saída a não ser fechá-los por alguns minutos.

Se esse quadro descreve o que você sente com uma certa frequência, são grandes as chances de você ter olho seco. Sintomas como ardor, ressecamento, fotofobia, corpo estranho e até lacrimejamento apontam para a condição multifatorial que tem se tornado cada vez mais comuns nos consultórios de oftalmologia. “Cerca de 15% dos pacientes se queixam de alguns desses sintomas pelo menos em parte do dia ou em determinadas situações”, explica o oftalmologista Arnaldo Castro.

Mesmo que você não tenha esse desconforto continuamente, é quase certeza de que apresenta esses sintomas em determinadas circunstâncias – e isso o torna um candidato sério a olho seco. “Além da pré-disposição individual, fatores externos como problemas nutricionais, ar-condicionado, uso de diuréticos, anti-histamínicos, lentes de contato, cirurgias prévias no olho e terapia hormonal também contam”, enumera.

Um aspecto que tem chamado a atenção dos pesquisadores é a importância da freqüência de piscar do paciente. A maioria dos estudos indica uma taxa de oito piscadas por minuto, o que faz com que o intervalo entre cada piscada seja de 7,5 segundos. A idéia é a seguinte: se o paciente pisca a cada 7 segundos, mas seu filme lacrimal demora 4 segundos para se romper, ele tem um déficit de 3 segundos em que a sua superfície ocular está totalmente desprotegida. E são nesses 3 segundos que o paciente sentirá desconforto ocular. “Muitos fatores afetam a freqüência de piscar, até mesmo o fato de estarmos sozinhos ou acompanhados”, afirma Castro. “O paciente que pisca mal certamente terá sintomas de olho seco.”

Tratamento pró-lágrima

Por ser multifatorial, o tratamento para olho seco varia de acordo com o paciente. Ele pode atuar na preservação da já escassa lágrima do paciente ou estimular sua produção e nessa briga vale tudo: colírios, géis, pomadas, soro autólogo, plugs lacrimais e até intervenção cirúrgica. Mas segundo a auxiliar Regina Salles Oliveira, assistente do oftalmologista Newton Kara José, professor titular da Universidade de São Paulo (USP), algumas medidas simples podem aliviar o desconforto causado pelo olho seco:

- Evite coçar os olhos.

- Ao pingar o colírio, feche os olhos levemente para que ele seja absorvido.

- Procure usar óculos escuros que cubram bem os olhos ao andar na rua ou na praia.

- Plantas ou um aquário ajudam a aumentar a umidade do ambiente.

- Certifique-se de que o ar condicionado não está forte demais.

- A ingestão de ômega-3, vendido em cápsulas, e também encontrado em alimentos como sardinha ou semente de linhaça, ajuda na lubrificação do olho.

Apesar de a maioria dos casos que chegam aos oftalmologistas ser de olho seco suave, existem os casos graves da doença, geralmente relacionados a uma doença sistêmica, como a síndrome de Sjögren ou de Stevens-Johnsons. Um estudo conduzido em 2003 pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) com portadores de olho seco grave mostrou que a qualidade de vida desses pacientes se equiparava à de pacientes terminais de AIDS. “Esses pacientes não enxergam bem, têm desconforto ocular o dia inteiro, têm que pingar a medicação religiosamente”, ressalta o oftalmologista José Álvaro Pereira Gomes, professor do setor de doenças externas e córnea da Unifesp e presidente da Associação dos Portadores do Olho Seco.

Fonte: Revista 20/20 Brasil