Podemos classificar as deficiência visuais em dois grupos: o das pessoas portadores de cegueira e das pessoas portadores de visão subnormal, podendo ser uma deficiência de origem congênita ou adquirida. Pessoas portadores de cegueira são os indivíduos que apresentam desde a ausência total da visão, até perda de percepção de luz, sendo necessária a utilização do sistema Braille para a comunicação escrita, além de não utilizar a visão para a aquisição de conhecimento, mesmo que a percepção de luz possa auxiliar na orientação da mobilidade.
No grupo de pessoas portadoras de visão subnormal, que também pode ser denominado de visão reduzida ou baixa visão, estão indivíduos que apresentam desde a condição de indicar a projeção de luz até o grau em que a redução de sua acuidade visual limita seu desempenho. Podemos citar como exemplos de patologias que levam a este tipo de deficiência visual, a retinose pigmentar e o glaucoma. Tem-se dado ênfase na utilização do resíduo visual e o treinamento deste para o seu aproveitamento máximo.
Devemos dar muita importância a idade de ocorrência da perda da visão, porque se ocorre antes dos cinco primeiros anos de vida, o portador não será capaz de reter uma imagem visual útil. Ocorrendo após este período poderá trazer alguns aspectos positivos: formação de conceito de espaço, tamanho e forma; possibilitar relações afetivas precoces e percepção de objetos em relação simultânea de posição.
A enorme importância da visão para o ser humano se explica pois é a forma mais objetiva de experimentação humana, fornecendo detalhes que nenhum outro sentido pode fornecer. Se uma criança nasce cega, dependerá da audição e do tato para adquirir conhecimentos e formar imagens mentais. Porém, se a criança ficou cega após os cinco anos, terá retido imagens visuais e será capaz de relacioná-las com imagens auditivas e táteis com mais facilidade.
Como principais limitações da cegueira, podemos citar a privação de importantes pistas sociais (gestos, movimentos e expressões fisionômicas de outras pessoas), restrição da mobilidade independente em ambientes não familiares, impedimento de acesso direto à palavra escrita (sem a visão poderá passar a usar o Braille ou o Sorobam, que são mais demorados), dentre outras.
Além da limitações impostas pela presença da cegueira ou visão subnormal, várias conseqüências incidirão sobre o desenvolvimento da criança.
No desenvolvimento motor, onde a visão funciona como "auto-estimulo" para o bebê, poderá acarretar atraso na mobilidade auto-iniciada (levantar o tronco quando está de bruços, sentar-se sozinha,...); atraso na iniciativa para alcançar objetos; atraso no movimento de preensão (seguras as mãos, pegar objetos,...); atraso na coordenação das mãos; surgimento de maneirismos (regressão aos padrões motores primitivos, com movimentos não direcionados, característicos até os três meses como movimentos reflexos).
O bebê cego nos primeiros meses de vida quase não se movimenta, por isso deverá ter uma estimulação precoce utilizando objetos com pistas sonoras (sons agradáveis) e
seus pais deverão ser orientados para colocar o bebê em diferentes posições para que possa viver a experimentação das várias posições corporais e desenvolver sua movimentação.
Na parte de desenvolvimento cognitivo poderá apresentar atraso da noção de permanência de um objeto, dificultando a capacidade de reconhecer a realidade externa como diferente da sua; utilização da coordenação áudio-manual (busca de um objeto quando estimulado por um som) com maior freqüência do que a visual-manual, que estará comprometida, levando a uma menor manipulação e experimentação dos objetos; demora na compreensão de dimensões de objetos e na aquisição de noção de causalidade (causa e efeito) e dificuldade no aprendizado através da manipulação e jogos de construção (blocos), nestes casos podendo ser utilizada a argila como alternativa.
O desenvolvimento da linguagem também é afetado com a criança utilizando um número menor de palavras funcionais relacionadas ao seu ambiente (ali, lá, acima,...) e pode surgir o verbalismo, quando a criança vivência a experiência do outro pelo uso das palavras ou expressões sem corresponder com situações que tenha vivenciado.
O mais importante é criar o ambiente propício para a criança com deficiência visual conseguir alcançar um desenvolvimento compatível com o estágio de vida que se encontrar até que possa ter a capacidade de se tornar independente e ativa socialmente. Para tanto é extremamente importante que pais, cuidadores e profissionais de saúde formem uma "equipe humana" onde cada um terá seu papel na estimulação precoce da criança, inserindo-a verdadeiramente no contexto social.
Neste sentido, a equipe de saúde (pediatria, fisioterapia, psicologia, fonoaudiologia,...) deverá ser transdiciplinar e não sendo possível, pelo menos multidisciplinar, para que o
tratamento seja o mais eficiente e o menos traumático possível, dando a criança
toda a confiança e tranqüilidade para seu desenvolvimento.
Por André Frutuoso
André Frutuoso
Coordenador da Fisioterapia do NIS