26 de nov de 2024

Os efeitos visuais da iluminação vêm sendo estudados há mais de 500 anos e existem registros de que Leonardo da Vinci escreveu sobre ruas iluminadas. Com a introdução da iluminação à gás e a luz elétrica, em meados de 1800, o estudo dos efeitos visuais da iluminação começaram a ser mais práticos. De lá pra cá, todos os esforços foram focados em projetar ambientes melhores iluminados. Com a descoberta recentíssima, no ano de 2002, de uma nova célula fotoreceptora no olho que controla os efeitos biológicos da luz e da escuridão, foi possível entender que a boa iluminação tem influência positiva no bem-estar, no desempenho, na produtividade e até na qualidade do sono. Isso significou também, que os parâmetros de boa iluminação precisavam ser revistos. É importante que arquitetos e engenheiros tomem consciência de que o desenho da iluminação pode incidir negativamente na qualidade da visão de crianças, adultos e, principalmente, dos idosos. Assim como se fazem adaptações em um espaço físico para atender a quem tem problemas de locomoção, também é preciso criar soluções para a boa iluminação, que ajuda não só a ver melhor, mas também a auto-confiança e autonomia. Mas afinal, o que é uma boa iluminação? 

Para começar, podemos resumir o funcionamento da visão: a luz refletida em um objeto passa pela córnea do olho; o cristalino é ajustado para focalizar os raios de luz, que chegam então à retina, onde milhões de células sensíveis à luz interpretam esses raios e transmitem a imagem ao cérebro. Deu para perceber a importância da luz nesse processo, certo? De qualquer forma, a boa iluminação depende sim, do tipo de luz com a qual cada pessoa se habituou a viver e se ela é portadora de problemas de visão. O que é afetada comumente pela presença maior ou menor de luz é a percepção visual. Isso pode fazer com que o cérebro interprete de forma diferente os dados que chegam até ele. Com mais luz, por exemplo, é possível perceber mais cores, o que sempre é mais confortável. E com o avanço da idade, as pessoas enxergarão melhor as letrinhas se tiverem mais contraste, que pode ser conseguido com aumento da quantidade de luz. É importante frisar que aos 60 anos precisamos de, pelo menos, iluminação três vezes maior do que aos 20 anos. Vários dos leitores já devem ter sentido na pele, quando vão a restaurantes, a necessidade de esticar o braço ao máximo na tentativa de colocar o cardápio em foco ou mesmo os pedidos de ajuda na hora de preencher um cheque. A presbiopia, a chamada “vista cansada”, já exige esforços extras dos que tem seus 45 anos, o que dirá se a iluminação não corresponder ao mínimo necessário. A boa iluminação, em suma, é aquela que oferece quantidade de luz e contraste suficiente para a realização das tarefas. A má iluminação é a que causa ofuscamento. 

Capítulo à parte se aplica à boa iluminação no ambiente de trabalho. A maioria das organizações já percebeu que um ambiente agradável é benéfico para a motivação dos funcionários e resulta no aumento da produtividade e retenção de talentos. Reverberando o que já citamos acima, um dos itens ambientais mais importantes quando falamos de local de trabalho é a iluminação, que pode conduzir os trabalhadores a um melhor desempenho, menor número de erros e melhor segurança contra acidentes. A cor da luz, por exemplo, representa um papel de destaque: uma luz um pouco azulada dá a impressão fresca, que é frequentemente agradável e estimulante, enquanto uma luz avermelhada dá uma impressão morna que pode ser experimentada como relaxante. Em casa, para conseguir um ambiente funcional e confortável em termos de iluminação, a dica é o uso de camadas de luz, ou seja, além de uma luz básica que ilumine todo o ambiente, é bom usar fontes auxiliares como abajur ou luminárias em pontos específicos. Isso permite eliminar sombras e reflexos. As persianas nas janelas também dão a chance de controlar a entrada de luz natural, que pode ajudar bastante. Claro que se existirem dificuldades no trabalho, optar por uma dessas fontes auxiliares pode ser uma boa pedida. 

A boa iluminação, portanto, é peça fundamental para que a oftalmologia consiga desempenhar seu melhor papel. Neste dia 7 de maio, em que se comemora o Dia do Oftalmologista, poder relacionar as espetaculares inovações tecnológicas por que passa a profissão com situações simples e básicas como a boa iluminação aponta a importância de algo que pouca gente percebe: os benefícios de ter a luz na medida certa.

Por Leôncio de Sousa Queiroz Neto

Leôncio de Sousa Queiroz Neto é médico oftalmologista, especialista pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia, titular do Instituto Penido Burnier, diretor da Associação Banco de Olhos de Campinas e perito capacitado pela Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego).