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Muitos pais demoram a perceber que seus filhos têm algum tipo de comprometimento na visão. Conheça aqui os sinais de alerta e algumas das condições mais comuns.

Um mês depois de ter completado seu primeiro ano, o pequeno Rodrigo já será submetido a uma cirurgia. Considerado um procedimento simples, a operação servirá para desobstruir o canal lacrimal do olho direito. “Ele sempre teve muita secreção nesse olho”, conta sua mãe, a administradora de empresas Noelita Favale. “Quando ele acordava o olho ficava todo grudado. Até o apelidamos de piratinha. De tanto esfregar os olhos, ele ficou com conjuntivite duas vezes.” Depois de tentar a massagem recomendada pelo pediatra sem sucesso, Noelita procurou um oftalmologista quando Rodrigo completou meio ano.

Como Rodrigo, milhares de crianças no Brasil têm algum tipo de condição que pode comprometer a visão. A dificuldade nesses casos é que, por não saberem se expressar, o problema se agrava sem o conhecimento dos pais. “O ideal é que o cuidado com a visão da criança comece ainda no pré-natal”, recomenda Célia Nakanami, responsável pela oftalmologia pediátrica do departamento de oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Existem formas de evitar que o bebê nasça com doenças congênitas.”

Marcando no calendário

Pode parecer exagero, mas é isso mesmo. Quanto antes começarem os cuidados, mais garantida estará a saúde ocular do bebê. De acordo com Célia, muitas crianças nascem com catarata congênita, por exemplo, porque as mães tiveram rubéola na gravidez.

Ciente da importância desses cuidados, a prefeitura de São Paulo tornou obrigatório o teste do olhinho no berçário. O exame, feito com um oftalmoscópio, procura detectar anomalias com uma luz sobre a pupila para observar o reflexo retiniano, que é vermelho. Na ausência de reflexo ou em casos de assimetria, o oftalmologista deve ser procurado.
Célia se recorda de um caso em que atendeu um recém-nascido que tinha uma diferença no reflexo entre os olhos. “O diagnóstico foi de catarata congênita e a criança foi operada com três dias de vida”, diz. Segundo ela, o teste do olhinho vem sendo colocado em prática em outros estados, mas o ideal seria que fosse adotado como lei federal.

Especialistas recomendam que as visitas ao oftalmologista comecem quando o bebê completa 6 meses e sejam repetidas de ano em ano. “A criança começa a fixar o olhar a partir de quatro semanas de vida. Por isso, alguns pequenos desvios podem ser observados nesse período”, explica. “Qualquer alteração depois disso deve ser comunicada ao médico.”
Outra fase que exige atenção especial é a que vem entre os 3 e 4 anos de idade, período que precede a entrada na escola. “A visão se desenvolve até os 8 anos”, esclarece. “Depois disso, o quadro pode ser irreversível.”

Sinais de alerta

Crianças não reclamam de baixa de visão ou embaçamento, portanto cabe aos pais ficar atentos ao comportamento dos pequenos. Segundo Rosa Maria Graziano, médica assistente da clínica oftalmológica do Hospital das Clínicas (HC), certas atitudes podem indicar que algo não vai bem. “Desatenção e necessidade de se aproximar demais dos objetos são características da criança com dificuldades para enxergar”, nota.

A oftalmopediatra Célia, da Unifesp, cita alguns padrões que tem observado ao longo dos anos. “Como têm boa visão para perto, míopes são geralmente intelectualizados, gostam de ler, mas não são muito fãs de esporte”, conta. “Os hipermétropes são o oposto.”

Célia enfatiza que muitas vezes quem descobre que a criança tem problemas visuais é o professor, que lida com os alunos num ambiente onde a visão – ou falta dela – fica mais evidente. Quando ninguém nota essas dificuldades, ela se retrai ou é considerada “atrasada”. “Há quatro anos, atendi uma criança de 5 anos considerada atrasada na escola”, recorda Célia. “No exame, vimos que ela tinha entre 7 e 9 graus de miopia.”

Especialistas recomendam também que o uso de computadores seja controlado de forma saudável, devido ao trabalho de acomodação – o esforço de focar para enxergar. “A criança precisa usar o computador com intervalos de descanso”, enfatiza.

Tem que participar

De acordo com a oftalmologista Rosa, não basta ser pai – tem que participar. “Muitos pais criam brinquedos para estimular a criança”, conta. “O pai de uma de minhas pacientes até inventou um patinete especial para que ela aprendesse a andar.” 
Existem situações, entretanto, em que a pró-atividade dos pais representa o sofrimento dos filhos. Casos clássicos são os de ambliopia, em que a criança é obrigada a usar um tampão para estimular o olho preguiçoso. “Nenhuma criança gosta que o olho bom seja tampado, mas é responsabilidade dos pais levar o tratamento adiante”, observa Keila Monteiro de Carvalho, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Célia completa: “Criança é muito esperta. Tenho uma amiga, hoje pediatra, que tinha ambliopia quando pequena. Ela usava o tampão, mas pegou a lapiseira e fez um furinho, que ninguém conseguiu enxergar, só ela”, relata.

Participar também significa estar atento a fatores externos, como histórico familiar de retinoblastoma ou estrabismo. Fotografias também podem ser armas poderosas nas mãos de pais atentos, já que o flash da máquina fotográfica é um meio eficaz de identificar a opacidade no olho, que caracteriza casos como catarata e tumor ocular. Alterações aparecerão na foto como uma mancha esbranquiçada.

Fique atento se a criança:

- Aproxima-se demais para ver objetos, ler ou escrever
- Levanta-se para ver o quadro na sala de aula
- Força os olhos na tentativa de enxergar melhor
- Fica com olhos irritados e sono excessivo depois das aulas ou no final do dia
- Apresenta baixo rendimento escolar
- Tem dor de cabeça e dor nos olhos depois de longos períodos fazendo deveres ou assistindo à TV

Exames que os pais podem fazer em casa:
- Em crianças pré-verbais recomenda-se a oclusão de um dos olhos para observar sua reação. Se for o olho bom, ela certamente reagirá.
- Com crianças maiores pode-se desenhar uma mão e pedir que ela, a alguns metros de distância, diga em que direção a mão está apontando.
- Reconhecer objetos familiares como garfo e colher a uma distância de 3 a 4 metros também pode ser eficaz.

As vilãs da garotada

Algumas condições são facilmente resolvidas com o simples uso de óculos, outras requerem tratamentos mais demorados ou até intervenção cirúrgica. Mas em todos os casos, quanto antes a doença for detectada, maiores as chances de se poupar o futuro da criança. 

Condições mais freqüentes e menos comprometedoras

- Obstrução das vias lacrimais: canal lacrimal ocluído
- Ptose: conhecida também como pálpebra caída
- Erros refrativos: hipermetropia, astigmatismo e miopia
- Ambliopia: conhecida também como olho preguiçoso

Principais causas de cegueira em crianças:


- Catarata congênita
- Toxoplasmose ocular
- Neuropatias ópticas 
- Retinopatia da prematuridade
- Glaucoma congênito
- Retinoblastoma