Com o novo coronavírus ainda circulando – apresentando novas variantes de alta transmissibilidade – e a incerteza da data de início da vacinação para a população em geral, o uso de máscara, o distanciamento social e a higienização das mãos permanecem fundamentais para evitar o contágio. Por conta disso, o retorno às aulas que acontece agora, entre janeiro e março, permanece sendo uma dúvida entre os pais. Nesse cenário, as escolas seguirão com o modelo híbrido, oferecendo a possibilidade de aulas presenciais e on-line. E as crianças continuarão mais expostas por mais horas aos eletrônicos – computadores, tablets e smartphones – não apenas para diversão, mas para a sua formação educacional. 

O resultado disso é que, mais do que nunca, o cuidado com a saúde ocular deve ser uma prioridade. Os problemas de visão podem impactar o cotidiano dos estudantes interferindo, inclusive, na sua aprendizagem. "Os pais precisam ficar atentos sempre ao comportamento dos filhos. Quando a criança erra ao anotar letras ou números, não enxerga algum objeto ou imagem, aperta os olhos para enxergar, aproxima o rosto dos brinquedos ou livros, tropeça (parece desajeitada) ou demonstra desinteresse ou desatenção na escola, ela precisa de um exame oftalmológico", alerta o oftalmologista Dr. Natanael de Abreu Sousa, especialista em Neuroftalmologia e Estrabismo.

O médico destaca que, durante a pandemia, o número de casos de estrabismo em crianças e adolescentes vem crescendo. "Na infância, o uso de smartphones durante muitas horas aumenta o risco de desenvolver estrabismo convergente – ou esotropia – doença na qual os olhos ficam desalinhados, com desvio para dentro. Se essa distorção não for diagnosticada e tratada logo, poderá causar danos à visão, além da alteração estética, de impacto psicológico e social relevantes", afirma o médico. "Esse é apenas mais um exemplo da importância do check-up oftalmológico, que não deve ser deixado para depois, mesmo na situação atual", ressalta.

Para ajudar pais e crianças a evitar alguns transtornos, o Dr. Natanael faz algumas recomendações importantes no cuidado com a visão.

Há um tempo máximo de horas que crianças/adolescentes podem ficar expostos às telinhas?

O ideal é que não precisássemos usar este recurso nunca. Mas, sendo realista, isso é inviável nos dias de hoje. Então, o recomendável é que o contato com os eletrônicos só comece depois dos dois anos de idade. Antes disso é melhor evitar. Crianças a partir de dois anos podem utilizar por 40 a 60 minutos diários, no máximo. Para os maiores de seis anos, o tempo não deve exceder a duas horas por dia e para adolescentes, não mais que 3 horas. Entretanto, se a criança tiver dificuldade de foco, apresentar olhos vermelhos e reclamar de ardência, turvação intermitente e dor de cabeça, isso quer dizer está tempo demais em frente às telinhas e é necessário rever a rotina.

O uso excessivo do computador pode mesmo provocar miopia?

A miopia está relacionada a causas multifatoriais, entre elas a genética e a causas ambientais. Há uma relação direta entre o uso excessivo da visão de perto e a quantidade de atividade externas – quanto mais tempo a criança passa ao ar livre, menor a progressão da doença. Para reduzir as chances de miopia nas crianças, o tempo de uso de equipamentos eletrônicos deve ser o mínimo possível. Brincar ao ar livre, recebendo luz solar é ótimo para a saúde como um todo – inclusive para os olhos. Quem mora em apartamento deve ir para a janela ou varanda, para fazer pausas e olhar a paisagem. Quanto mais longe puder ficar da TV, melhor. À noite, os aparelhos devem ser desligados pelo menos uma hora antes de dormir e nunca se deve dormir com tablet ou smartphone por perto.

Quais são os problemas de visão mais comuns na infância?

Os problemas visuais mais comuns na infância são os erros refracionais (hipermetropia, miopia ou astigmatismo), ambliopia (diferença de acuidade visual entre os olhos, ou seja, um olho 'preguiçoso') ou estrabismo (desvio ocular), condições que podem afetar a alfabetização das crianças. A hipermetropia e o astigmatismo de baixa magnitude são comuns e considerados fisiológicos nos primeiros anos da infância. Sendo assim, habitualmente não são prescritos óculos nesses casos. A miopia, que causa baixa visual para longe, precisa de correção com o uso de óculos a fim de evitar dificuldades visuais na escola.

Quando uma criança apresenta desvio ocular ou maior erro refracional (grau) em um dos olhos, é comum que a imagem proveniente daquele olho desviado ou com visão embaçada tenha menor representatividade cerebral, significando que a informação cerebral vinda daquele olho é menos nítida. Ao longo de dias a semanas, o cérebro suprime a imagem daquele olho e a acuidade visual cai. Chamamos esse quadro de ambliopia ou, popularmente falando, de 'olho preguiçoso'. Esse processo é reversível, se melhoramos a nitidez da imagem com o uso de óculos e passamos a utilizar a oclusão do melhor olho (tampamos o olho com melhor acuidade visual), diariamente, por algumas horas. Desta forma, treinamos o olho preguiçoso a enxergar e o cérebro a não suprimir mais a imagem e a receber o sinal enviado pelo olho amblíope.

Quais os cuidados que é preciso ter caso opte pelas aulas presenciais?

É fundamental que os ambientes de educação continuem sendo acolhedores e incentivadores do aprendizado, mas sem descuidar da prevenção, para minimizar a possibilidade da propagação do SARS-CoV-2. Os professores devem evidenciar, sempre que possível, que levar as mãos aos olhos abre uma porta de entrada para a infecção da Covid-19. É importante salientar que a higienização assídua dos lugares e a individualização dos materiais utilizados também são necessários para evitar o contágio. Com as devidas precauções, a escola continuará sendo um lugar de memórias agradáveis para as nossas crianças.

Como evitar que as crianças tenham problemas de visão?

Os cuidados devem começar desde o nascimento. Todo recém-nascido deve realizar o teste do reflexo vermelho ou 'teste do olhinho'. Com ele já é possível mapear algumas doenças, como depósito corneano (doenças de depósito, relacionadas ao erro inato do metabolismo), edema corneano (glaucoma congênito), catarata congênita ou descolamento de retina (inflamações oculares intrauterinas, má involução dos vasos do vítreo ou até retinoblastoma). Segundo recomendações da academia americana de oftalmologia, uma nova consulta preventiva ou de screening deve ser realizada entre 6 meses a 1 ano de idade. Desde então, a consulta oftalmológica deve ser repetida, anualmente. Durante a idade pré-escolar (de modo geral, de 2-3 anos até os 7 anos de idade) o objetivo é diagnosticar precocemente patologias cujo tratamento em tempo hábil pode evitar o desenvolvimento de ambliopia ou atraso no aprendizado escolar. Entre os jovens, as causas para perda de visão costumam ser trauma ocular, descolamento da retina e doenças neurológicas e degenerativas, como a neurite óptica. Por isso, consultar regularmente o oftalmologista é fundamental, pois quanto mais cedo o diagnóstico, mais rápido se inicia o tratamento e maiores as chances de recuperação da acuidade visual.

 

 

 

 

Fonte: assessoria de comunicação do Grupo Opty