Crianças estrábicas também são alvo fácil de bullying
Diagnóstico precoce e tratamento ajudam no bem-estar infantil
O olho é o principal órgão de relacionamento humano e quando apresenta defeito físico, como é o caso do estrabismo, pode por si só gerar problemas emocionais graves ao indivíduo se não tratado corretamente. Não bastasse, a criança pode sofrer ainda com as terríveis sequelas do bullying, espécie de intimidação psicológica com registro de violência em situações extremas.
O oftalmologista Carlos Ramos de Souza Dias, professor titular da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo explica que “a questão psico-estética, além da parte sensorial, é de fundamental importância na correção do estrabismo”.
O assunto ganha força com o resultado de uma pesquisa recente que causou repercussão na imprensa brasileira. Realizada com 48 crianças de seis a oito anos de idade atendidas por uma clínica oftalmológica na Suíça, revelou que 18 delas não convidariam um colega estrábico para uma festa.
Diagnóstico precoce: importância
“O aparecimento do estrabismo na criança é uma situação de emergência”, alerta o Dr. Dias, que recomenda início imediato do tratamento. Mesmo que nenhum problema ocular se manifeste, os pais devem levar a criança com até um ano para realizar exame estrabismológico completo. São eles:
- Estereoscopia - Avaliação da capacidade de perceber profundidade e distância (visão em três dimensões)
- Refratometria - Medição de defeitos refrativos nos olhos (indicam o grau que deve ser usado nos óculos)
- Fundoscopia - Diagnóstico interno de possível lesão na retina e que causaria baixa visão (para não confundir com a chamada ambliopia estrábica falta de estímulo às células cerebrais responsáveis pelo olho comprometido)
- Tonometria - Quando é medida a pressão intraocular para identificar o glaucoma
- Campimetria - Estudo das condições visuais da retina periférica, onde o glaucoma inicia a destruição do campo visual
- Acuidade visual - Capacidade de enxergar pequenos objetos
A importância do diagnóstico precoce está na capacidade de evitar ou até mesmo curar as alterações sensoriais que, caso ignoradas, provocam desde a falta de coordenação na retina (correspondência retínica anômala), sintoma clássico do estrabismo, até a perda da visão no olho desviado. “O estrabismo ainda pode ser a primeira evidência de um problema neurológico grave”, explica o oftalmologista.
Tratamento
Como há muitos tipos de estrabismo, a indicação terapêutica para cada um deles é diferente, desde a simples prescrição de óculos até cirurgia, passando pela oclusão do olho deficitário. O último procedimento citado é feito com o suporte do tampão, como é mais popularmente conhecido. “O acompanhamento dos pais às indicações médicas é fundamental para o processo do tratamento”, finaliza o Dr. Souza-Dias.
‘Sou estrábico sim, e daí?’
Se não der certo a tática de ignorar simplesmente a provocação dos “colegas” de classe, ao ser firme, evitar o choro e abatimento - o contrário do “jogo” de quem humilha por afirmação própria no grupo ao diminuir quem considera “feio” ou “diferente”, a Dra. Ângela Uchôa Branco sugere outro caminho: “Dizer, ‘Sou estrábico sim, e daí? O problema é meu e estou tratando. Por que você não cuida do seu problema e deixa os outros em paz?’”.
Professora do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília, Ângela diz que o problema do bullying nas escolas é amplo e envolve qualquer criança. A especialista ainda coordena linhas de pesquisa voltadas para a promoção da paz nas escolas.
Ela também destaca o papel dos pais e professores, que devem atuar de forma colaborativa na atenção à criança vítima desse assédio. “A tolerância com essas manifestações deve ser zero”, decreta a psicóloga, para quem o papel do mestre é o de treinar a paciência do aluno a ignorar provocações.
Se em sala de aula o foco é na promoção de empatia e colaboração entre os alunos, no ambiente familiar deve ser estabelecido um canal de diálogo entre pais e filhos para fortalecimento da auto-estima e de conceitos como moral e aceitação da diferença.
Fonte: Assessoria de Comunicação AMP