Usar o tato para fazer deficientes visuais “enxergarem” foi a saída encontrada pelos empresários Igor Gavazzi Vazzoler e Eduardo Cunha. Os sócios da empresa Progic desenvolveram um equipamento formado por óculos com filmadora embutida e um aparelho que transforma os pixels (pequenos pontos que definem a resolução de uma figura) das imagens capturadas em movimentos de dispositivos. Assim, quando o deficiente coloca a palma de sua mão sobre o equipamento preso à cintura, percebe a movimentação dos pontos e identifica o contorno dos objetos a sua volta.

Desenvolver o projeto Handvision, como é denominado o novo aparelho, foi possível graças à tecnologia da pequena empresa Progic, incubada na Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate), que cria produtos eletrônicos com aplicação para áudio e vídeo. Com apenas 11 funcionários, o empreendimento faturou R$ 560 mil em 2009 e tem a expectativa de atingir R$ 900 mil este ano.

O novo aparelho tem um caráter inovador e recebe financiamento do plano nacional de subvenção econômica da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Com a verba pública de R$ 1,3 milhão e mais R$ 300 mil investidos com capital próprio dos empresários, foi possível desenvolver um protótipo e aperfeiçoar o aparelho. “Para conseguir o recurso da subvenção a empresa deve ter um projeto inovador e coerente com o tema do ano proposto”, diz Murilo Guimarães, superintendente da área de subvenção e cooperação da Finep. “Além disso, são realizadas verificações durante o andamento do projeto e há o controle da prestação de contas”.

O aparelho ligado aos óculos adaptado é constituído por 900 pontos de aproximadamente três milímetros de diâmetro, que vibram de modo diferente e numa frequência de 30 a 40 hertz (taxa de maior sensibilidade). Além disso, há componentes que realizam o processamento da imagem e acionam os elementos de vibração. Quando o deficiente coloca sua palma da mão sobre os pontos vibratórios, consegue “visualizar” a forma dos objetos capturados nas imagens filmadas. “O deficiente visual ‘sente’ o contorno da pessoa por meio dos movimentos em sua mão. A visualização é dinâmica, já que acompanha o sentido do olhar”, afirma Vazzoler.

Durante o processo de formação da imagem, alguns procedimentos específicos acontecem. Na primeira etapa o equipamento filtra os elementos menores da imagem e retira os detalhes, “borrando” as figuras. Em uma segunda parte, é feita a detecção das bordas e formada a resolução final, em que será mostrado o contorno das imagens, sem os espaços cheios.

Outra vantagem do produto é a possibilidade de variar a fonte de vídeo, o que permite ao deficiente visual assistir a um filme ou a qualquer outra imagem. A alimentação de energia pode ser feita por meio de uma bateria ou com energia elétrica. Há pesquisas nos Estados Unidos de um equipamento que também facilita a visualização para deficientes visuais. Entretanto, os óculos americanos emitem sinais de luz a uma placa eletrônica colocada na boca do usuário, o que causa inconvenientes.

O Handvision não está disponível comercialmente e nem concluído. “Estamos na metade do projeto, mas todos os testes feitos com o protótipo foram satisfatórios”, afirma Vazzoler. Os empresários estimam que o produto possa custar entre R$ 6 mil e R$ 10 mil, um valor justificado pelo alto custo de produção.

Segundo levantamento realizado pelo IBGE, em 2000 havia 170 mil deficientes visuais totais e 2,5 milhões com até 30% da visão.

Fonte: IG