A maioria dos casos de catarata desenvolve-se lentamente ao longo de anos e é caracterizada por visão embaçada, como se a pessoa estivesse olhando por um vidro opaco. Quando a catarata interfere nas atividades normais do indivíduo, o cristalino embaçado pode ser substituído por lentes artificiais transparentes, por meio de procedimento cirúrgico

O envelhecimento do ser humano ocorre por uma série de alterações que vão ocorrendo no organismo ao longo do tempo vivido. Este processo provoca mudanças nas funções e estrutura do corpo e o torna mais suscetível a uma série de fatores prejudiciais, estes podem ser tanto internos, falha imunológica; renovação celular comprometida; etc, como externos; estresse ambiental.

Dentre os muitos órgãos e/ou sistemas orgânicos que não exteriorizam este desgaste, mas que sofrem a mesma ação encontra-se o cristalino dos olhos, que é a lente ocular natural de cada indivíduo. Com o passar da idade ele vai se tornando opaco e embaçado, comprometendo a visão. É o que se chama catarata. De acordo com o Walton Nosé, doutor em oftalmologia, Prof. Adjunto Livre Docente da UNIFESP-EPM e presidente da Associação Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa (ABCCR-BRASCRS), a catarata é uma doença multifatorial e pode ser congênita ou adquirida.

“A causa mais comum deste problema é o envelhecimento do cristalino que ocorre pela idade, denominada de catarata senil. Mas, ela também pode estar associada a alterações metabólicas que ocorrem em certas doenças sistêmicas, como Diabetes. Outras causas são o uso sistemático e sem indicação médica de colírios, especialmente aqueles com corticóides, inflamações intraoculares e traumas como batidas fortes na região dos olhos”, informa o médico.

Responsável por 47,8% dos casos de cegueira no mundo, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a catarata pode acometer apenas um ou ambos os olhos dependendo de sua causa. “A catarata relacionada à idade, doença sistêmica ou ao uso de corticosteroides sistêmicos, geralmente é bilateral e assimétrica, ou seja, pode estar mais avançada em um dos olhos. Poderá ser unilateral se for secundária a doença ocular ou ao trauma do olho acometido”, explica o Dr. Walton Nosé.

Principais sintomas

Na maioria das vezes a catarata não pode ser diagnosticada a olho nu e nem mesmo é percebida facilmente pelos próprios portadores deste dano ocular nas suas fases iniciais. Os principais sintomas da catarata são: sensação de visão embaçada, alteração contínua da refração (grau dos óculos), maior sensibilidade à luz, espalhamento dos reflexos ao redor das luzes e percepção que as cores estão desbotadas. “Geralmente, há uma piora da miopia com redução da visão em baixo contraste e baixa luminosidade, principalmente para longe, comparativamente à visão para perto. Somente o oftalmologista poderá solicitar os exames necessários para a confirmação do diagnóstico, bem como, indicar o melhor procedimento cirúrgico para tratamento”, esclarece o presidente da ABCCR-BRASCRS.

Mas, existe uma forma de evitar que a catarata se desenvolva? De acordo com o Dr. Walton Nosé, não há como evitar a predisposição genética e nem o envelhecimento do cristalino. “Porém, algumas medidas preventivas podem ser tomadas visando reduzir alguns fatores de risco para o desenvolvimento da catarata. Reduzir o tabagismo, proteger-se contra a radiação ultravioleta, principalmente UVB, e traumas, controlar o Diabetes Mellitus e evitar o uso de corticoides são cuidados que podem ser eficazes na prevenção da catarata. É fundamental ter consciência dos perigos da automedicação”, alerta.

O tratamento

Apesar de não haver uma medida eficaz para impedir o desenvolvimento da catarata, ela tem cura. Com base na explicação do especialista em oftalmologia, a deficiência visual causada pela opacificação do cristalino pode ser revertida com tratamento cirúrgico, no qual a lente natural opaca é removida e substituída por uma lente transparente, denominada de lente intraocular.

“A cirurgia da catarata visa substituir o cristalino por uma prótese transparente para possibilitar melhor passagem dos estímulos luminosos para o interior do olho. Tal procedimento é chamado de facectomia com implante de lente intraocular”, esclarece Dr. Walton.

Muitos podem pensar que este método cirúrgico é arriscado, porém, é o mais realizado na oftalmologia, sendo uma das técnicas que mais evoluiu nas últimas décadas. “Há pouco mais de 30 anos era realizada sob anestesia geral e a catarata era removida por meio de uma incisão ampla, seguida por implante de lente intraocular rígida e múltiplas suturas no globo ocular. Atualmente, a incisão é de cerca de dois milímetros, a catarata é emulsificada (fragmentada) em pequenos pedaços e aspirada por um aparelho chamado de facoemulsificador e a lente intraocular é dobrável. A incisão de pequeno tamanho e arquitetura auto selante, geralmente dispensa a utilização de suturas. Trata-se de um procedimento microscópico de alta complexidade. É muito seguro; porém, como qualquer procedimento invasivo, não é isento de riscos. A tecnologia atual e a experiência do cirurgião reduzem significativamente esse risco. A saúde geral e ocular do paciente, bem como seu histórico familiar são fatores que influenciam diretamente no resultado cirúrgico. Além disso, é fundamental que o paciente siga as orientações pré e pós-operatórias de seu oftalmologista para minorar os riscos. Com o avanço da tecnologia, hoje o laser de femtossegundo pode ser usado para realizar alguns passos da cirurgia de catarata, como a confecção das incisões, a retirada de uma parte da membrana que envolve o cristalino e a fragmentação da catarata. Tal progresso permitiu a redução no tempo de cirurgia. O que antes demandava algumas horas, agora é feito em questão de minutos”, afirma.

Atualmente a cirurgia de catarata é realizada com anestesia local com aplicação de gotas anestésicas ou por meio da injeção de pequena quantidade de anestésico na região inferior da órbita, técnica denominada de bloqueio peribulbar, onde o globo permanece em movimento e sem sensibilidade.

Para quem ainda tem dúvidas em relação à cura da catarata, o presidente da ABCCR relata que uma vez retirada e substituída por uma lente intraocular, a catarata não voltará mais. “O que pode ocorrer em alguns casos é um processo de fibrose na membrana que serve como suporte para lente intraocular. Dependendo da intensidade dessa fibrose a membrana pode se tornar opaca prejudicando a visão. Para resolver essa opacidade é recomendo um procedimento denominado de capsulotomia por Yag LASER. Este procedimento é realizado em caráter ambulatorial, é indolor e quando indicado traz melhora significativa da visão”, completa.

Voltando à rotina

Segundo Dr. Walton Nosé, a melhoria da visão está diretamente relacionada com a intensidade da inflamação do olho e ao procedimento cirúrgico. A resposta inflamatória pode se manifestar com intensidades diferentes dependendo do grau evolutivo em que se encontrava a catarata e as condições de recuperação da córnea, retina e demais estruturas oculares do paciente. Diabetes e outras alterações também podem interferir na recuperação. “É comum a visão ficar embaçada nos primeiros dias de pós-operatório. Havendo pouca ou nenhuma inflamação, a visão se recupera rapidamente”, finaliza.

 

 

 

 

Fonte: Assessoria de comunicação da Associação Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa