Pacientes que tem câncer no olho enfrentam um dilema. Eles começam o tratamento, sabendo que a estratégia do cirurgião para retirar o tumor com radiação pode comprometer a visão

Investigadores da UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles) descobriram que uma substância chamada óleo de silicone pode proteger a visão dos pacientes submetidos à terapia de radiação para melanoma ocular.

Segundo o site de notícias científicas "Science Daily", o periódico The American Medical Association's Archive of Ophthalmology publicou os resultados do estudo em sua edição de julho.

"A perda da visão é um efeito colateral devastador, ainda comum na terapia de radiação", declarou Tara McCannel, professora assistente de oftalmologia e diretora do Centro de Oncologia Oftalmológica da UCLA no Instituto Jules Stein Eye. "Até pouco tempo atrás, os médicos focavam em matar o tumor e consideravam a perda de visão um problema secundário. Nossos resultados sugerem que o óleo de silicone é uma ferramenta segura para proteger a visão do paciente durante a radiação".

O melanoma ocular se forma nas camadas pigmentadas sob a retina e é o câncer ocular mais comum entre os adultos. O Instituto Nacional do Olho registra cerca de 2.000 novos casos diagnosticados de câncer, cerca de sete em um milhão de pessoas, a cada ano. As causas permanecem desconhecidas.

Para tratar o melanoma ocular, cirurgiões costuram uma placa de ouro com sementes radioativas no branco do olho e removem-na alguns dias depois. Embora a radiação mate as células cancerígenas, ela causa prejuízos irreversíveis nas fibras do nervo óptico e da mácula, a parte da retina responsável pela visão central.

A radiação que danifica a mácula fragiliza os vasos sanguíneos que alimentam o olho, causando sangramentos e eliminando a circulação. Mesmo quando a radiação destrói o tumor com sucesso, as estruturas dos olhos permanecem extremamente frágeis e propensas à atrofia, o que pode levar à perda da visão.

"Se os pacientes sobreviverem ao câncer, mais da metade irá perder a visão no olho tratado em seis meses a três anos mais tarde", disse McCannel, que também é membro do Centro de Câncer Jonsson Comprehensive da UCLA. O risco de cegueira aumenta ao longo do tempo.

A técnica da UCLA ocorre imediatamente antes do olho do paciente ser exposto à radiação.

Primeiro, os pacientes são submetidos a um exame para medir a visão da linha de base antes do tratamento. Em seguida, McCannel remove o gel vítreo, que suporta o formato interior do olho. Ela substitui o gel com óleo de silicone, uma substância aprovada pelo FDA (órgão que fiscaliza alimentos e medicamentos nos EUA similar à Anvisa), muitas vezes usada para manter a retina no lugar durante a cirurgia para o reparo do descolamento da retina.

Após a remoção da placa de radiação no olho tratado, ela remove o óleo com uma solução salina, que, eventualmente, é substituída por fluidos naturais do paciente.

"Nós descobrimos que o óleo de silicone absorve quase 50% da radiação", disse ela. "A substância age como um escudo físico, reduzindo a quantidade de raios radioativos que atingem as costas e os lados do olho. Esperamos que a capacidade do óleo para bloquear a radiação resulte em melhor visão para os pacientes".

O óleo já é amplamente utilizado em cirurgias de retina, não interfere no tratamento do tumor, e sua transparência permite que o cirurgião e o paciente vejam através dele.

A equipe da UCLA usou três abordagens para demonstrar que o óleo de silicone absorve 50% dos raios de radiação. Embora sejam necessárias mais investigações a longo prazo, o acompanhamento dos pacientes de McCannel mostrou que a visão de cada um retornou aos níveis de base, sem interferir na resposta dos tumores à radioterapia.

 

Fonte: Folha.com