Nos últimos anos, o número de idosos no Brasil aumentou. Entre 2005 e 2015, a proporção de pessoas de 60 anos ou mais passou de 9,8% para 14,3%, de acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísica (IBGE), em 2016. Alguns dos problemas de saúde mais comuns nessa faixa etária são os relacionados à visão. Além da catarata, do glaucoma e de erros de refração, como a presbiopia, uma das doenças oculares que mais atinge a população idosa é a degeneração macular relacionada à idade (DMRI).

Visando esclarecer as principais dúvidas sobre a DMRI, uma das causas de cegueira em países desenvolvidos, o oftalmologista Dr. André Castro concedeu a seguinte entrevista:

1 - O que é a degeneração macular relacionada à idade?

A degeneração macular relacionada à idade (DMRI) abrange um grupo de patologias que apresentam alterações maculares, muitas clinicamente não detectáveis, que afetam o centro da visão, especificamente na região denominada retina externa (EPR, membrana de Bruch e a coriocapilar). Este processo resulta do envelhecimento normal, onde um grupo populacional apresenta predisposição genética e fatores de risco para o desenvolvimento da doença.

2 - Qual a diferença entre a DMRI seca e a DMRI úmida ou exsudativa?

Classificamos este grupo de doenças em dois grandes grupos, onde a DMRI não exsudativa ou seca é caracterizada por sinais clássicos, onde o principal são as drusas. Contudo ela pode se apresentar com anormalidades do Epitélio Pigmentar da Retina (EPR), atrofia geográfica e alterações pigmentares. Já a DMRI exsudativa ou úmida é caracterizada pelo desenvolvimento de membrana neovascular subrretiniana, que consistem numa ruptura da membrana de Bruch e crescimento de tecido neovascular e suas ramificações.

3 - Quais são os principais sintomas desses dois tipos de DMRI?

Os principais sintomas da DMRI estão associados às alterações da região macular, que é o centro da visão, onde num quadro inicial o paciente apresenta metamorfopsia, que nada mais é que uma distorção da visão central, evoluindo para escotomas paracentrais, e finalmente o escotoma central, com diminuição severa da acuidade visual, e manutenção da visão periférica. Na DMRI não exsudativa ou seca, estes sintomas são lentamente progressivos, e na DMRI exsudativa ou úmida, normalmente se apresentam com início súbito e abrupto.

4 - Quais são os fatores de risco para a doença?

Os principais fatores de risco são: a idade, história familiar positiva, tabagismo, hipermetropia, íris de coloração clara, hipertensão arterial sistêmica, descendência caucasiana, hipercolesterolemia, gênero feminino, exposição excessiva aos raios UV e doenças cardiovasculares.

5 - Por que ela atinge mais os idosos acima de 60 anos?

Porque a DMRI tem uma forte correlação com o estresse oxidativo, que ao longo da vida ocasionará na perda das células do EPR e na diminuição da sua função de fagocitar os discos dos fotorreceptores (produto final do processo fotoquímico dos cones e bastonetes) e da absorção da luz.

6 - As pessoas mais jovens também estão suscetíveis a essa doença?

Não. As pessoas jovens podem desenvolver outras patologias que afetam o centro da visão e mimetizam a degeneração macular relacionada à idade. O DMRI normalmente resulta de um prolongado estresse oxidativo acumulado ao longo da vida.

7 - A DMRI pode ser prevenida? Se sim, quais são as formas de prevenção?

Essa pergunta ainda não é respondida de forma categórica pelos estudos e ensaios clínicos. Contudo, hoje, as sociedades de Retina e Vítreo mundo afora orientam a redução da obesidade, do tabagismo, exposição solar com proteção aos raios UV e dietas ricas em antioxidantes ao longo da vida.

8 - Quais são as formas de tratamento?

Na DMRI seca, atualmente, não temos um arsenal terapêutico que reduz ou cessa este processo degenerativo da região macular na terceira idade. Contudo, atualmente, estudos clínicos orientam o uso de suplementação alimentar com polivitamínicos e antioxidantes específicos, como a luteína e zeaxantina, com o objetivo de reduzir a evolução para as formas mais graves de DMRI seca, em pacientes já diagnosticados previamente. Nenhum estudo comprovou benefício dessa suplementação em pacientes com a retina saudável.

Já na DMRI Exsudativa existe um arsenal de drogas que são administradas através de injeções intraoculares, mais especificamente na cavidade vítrea, onde este grupo de fármacos, conhecidos como antiangiogênicos, atuam reduzindo a membrana neovascular subrretiniana formada na DMRI exsudativa e, consequentemente, melhorando a visão central afetada. Contudo, infelizmente, ainda não obtivemos a cura da doença com as injeções intravítreas de antiangiogênicos, mas sim um controle da doença com melhora e/ou manutenção da acuidade visual funcional, quando esse tratamento é instituído precocemente.

Infelizmente, um grupo considerável de pacientes necessitará de inúmeras injeções ao longo da vida para manutenção da acuidade visual e controle da doença, gerando no mundo inteiro um grande problema de saúde pública.

Para finalizar, a principal orientação à população idosa é a prevenção. Mesmo os idosos assintomáticos devem realizar exames oftalmológicos periódicos e, dentro dessa avaliação, realizar os exames que avaliam a região da retina e da mácula. Quanto mais precocemente diagnosticada a DMRI, menor o risco de sequelas na visão central e, consequentemente, melhora da qualidade de vida dos idosos, assim como menor risco de quedas e suas consequências, manutenção da independência doméstica, etc.

 

 

 

 

 

 

Fonte: Assessoria de Comunicação do Centro da Saúde Ocular Kátia Mello,