A córnea artificial diminui o risco de rejeição pelo paciente
A córnea artificial diminui o risco de rejeição pelo paciente


Tecido sintético foi testado com sucesso e revelou baixo índice de rejeição

As longas filas de espera por um transplante de córnea podem estar com os dias contados. Cientistas conseguiram recriar essa camada ocular em laboratório, eliminando a necessidade de um doador para a cirurgia.

Nos primeiros testes, a córnea biossintética recuperou completamente a capacidade de enxergar em seis dos 10 pacientes, que tinham lesões ou doenças. Os testes foram realizados com pessoas na Suécia. Em todos os casos, as terminações nervosas voltaram a crescer, e o novo tecido foi completamente incorporado ao organismo.

Segundo os pesquisadores, o método acabou com dois dos principais problemas do transplante convencional: a rejeição ao tecido e a necessidade de tratamento de longo prazo com drogas que diminuem a resistência do organismo que recebe o material doado por outra pessoa. As córneas biossintéticas também recuperaram a sensibilidade ao toque e voltaram a permitir a presença de lágrimas, que lubrificam os olhos e evitam problemas como infecções.

"É a primeira vez que um trabalho mostra uma córnea criada artificialmente se integrando ao olho e estimulando a regeneração", afirmou May Griffith, da Universidade de Ottawa (Canadá), uma das líderes do estudo publicado na revista Science Translational Medicine.

A criação do tecido artificial leva duas semanas. Cientistas sintetizam o colágeno, proteína que é um dos principais componentes da córnea natural, em laboratório. O colágeno foi moldado para ter formato e consistência muito parecidos com os de uma lente de contato convencional. O processo levou duas semanas. Na cirurgia, os médicos fizeram um corte circular e retiraram o centro danificado da córnea. O novo tecido foi então costurado ao que sobrou da córnea natural. O tempo de operação é quase o mesmo dos atuais transplantes.

"É um método muito promissor e com grandes chances de sucesso real. Só com um número maior de pacientes, com diferentes condições, poderemos dizer se é realmente eficaz", disse o médico Renato Ambrósio Jr., da Sociedade Brasileira de Oftalmologia.

Tempo médio de espera por uma doação é de 317 dias

A córnea é um composto de colágeno e células que funciona como uma espécie de janela transparente do olho. Várias doenças e lesões podem causar opacidade no tecido, diminuindo a capacidade de enxergar.

O transplante de córnea é o mais comum no país, com mais de 70% das operações. Ainda assim, 24.013 pessoas aguardam na fila pela cirurgia no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. O tempo médio de espera é de 317 dias, período em que muitos pacientes pode até chegar à cegueira total. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, pelo menos 1,5 milhão de pessoas ficam cegas anualmente devido a problemas nesse tecido.


Fonte: Portal Zero Hora