Por Tadeu Casqueira

A alegria e a descontração, mesmo após o puxado treino que acabara de participar sob o comando do técnico da Seleção Brasileira de goalball Paulo Sérgio de Miranda, evidenciam a paixão que a atleta de 31 anos, Márcia Bonfim Vieira dos Santos, de Mauá, São Paulo, tem pelo esporte. Sentada na arquibancada do Ginásio do Instituto Benjamin Constant (IBC), no Rio de Janeiro, a atleta, depois de quase três horas de treinamento deixou o cansaço de lado e permaneceu na quadra para falar à CBDV sobre o amor que sente pelo goalball.

Márcia atualmente joga pela Associação de Pais e Amigos e Deficientes Visuais (APADV), de São Paulo, onde esse ano ajudou a equipe a ser campeã do Regional Sudeste II, e para completar foi artilheira da competição com 18 gols. Sua presença na Seleção é indiscutível e é peça importantíssima no esquema
elaborado pelo técnico Paulo. Considerada por ela mesma uma veterana no esporte, Márcia sonha que um dia as pessoas se interessem mais pela modalidade. "Meu sonho é que um dia as pessoas perguntem pelo goalball da mesma maneira que perguntam pelo futebol. 'O que é o goalball?', 'Como pratica?', revelou.

A atleta está concentrada com a Seleção Brasileira ao lado de mais oito meninas, no IBC desde o dia 23/07, onde ficarão até o próximo domingo, 21, quando se encerra a IV fase de treinamento, que serve como parte da preparação para os Jogos Parapanamericanos de Guadalajara, no México. O maior objetivo da
Seleção no Parapan é a conquista da vaga para as Paraolimpíadas de 2012, em Londres.

"O mais importante é conseguir a vaga para as Paraolimpíadas de 2012, em Londres. A gente tem que ficar na frente do México, se eles forem prata, nos temos que ser ouro", completa.

E não ficou por aí. Marcia ainda falou do início de sua carreira, como se apaixonou pelo esporte, o que o goalball representa para ela, o desenvolvimento do esporte no Brasil, Seleção Brasileira da modalidade, Paraolimpíadas de 2016, entre outros assuntos.

Confira toda a entrevista da atleta Marcia Bonfim Vieira dos Santos à CBDV.

CDBV
- Como surgiu o seu interesse pelo goalball?

Márcia Santos - Comecei a praticar o esporte no ano de 2001. Esse interesse surgiu até mesmo para me ajudar na orientação e na mobilidade. Eu não andava sozinha, e esse foi um dos motivos que me fizeram procurar o goalball. É um esporte maravilhoso, serve como uma terapia para mim. Hoje não vivo sem. Eu trabalho e estudo,mas o tempo para praticar tem que ter.

CDBV - Queria que você me falasse um pouco sobre a sua relação com a Seleção Brasileira de Goalball. Como foi a sua primeira convocação?

MS - Minha primeira convocação para a Seleção foi em 2002, um ano depois que comecei a jogar o goalball. Algo que eu nem pensava que fosse acontecer. Eu não pensava em jogar pela Seleção. Mas não pude me apresentar (para a equipe brasileira) por problemas particulares. Em 2003 também, a mesma coisa. Até que, fui chamada de novo. E acho que não tem preço fazer parte da Seleção. Hoje em dia os atletas ganham por fazer parte, mas quando eu comecei a gente não ganhava nada. Eu participava da Seleção com o mesmo amor, a mesma dedicação.

CDBV - Tem algum atleta do esporte Paraolímpico que você se inspira? Qual?

MS - Eu me inspirei em dois atletas: Simone Camargo (APADV) e César Gualberto (ADEVIMAR), ambos do goalball.

CDBV - O que você espera para o futuro do esporte?

MS - Coisas boas. De 2004 para cá houve um crescimento muito grande. A bolsa Paraolímpica, por exemplo, ajuda muito ao atleta. Eu não tenho bolsa Paraolímpica, a minha é nacional, mas ela ajuda. Os aparelhos que uso para treinar são caros, e essa ajuda incentiva o atleta.

CDBV
- Qual o seu maior sonho no esporte?

MS - É que um dia as pessoas perguntem pelo goalball da mesma maneira que perguntam pelo futebol. Quero que as pessoas tenham o interesse pelo esporte. “O que é o goalball?” “Como pratica?”. Eu quero que todos conheçam esse esporte que é maravilhoso. E acredito que as Paraolimpíadas aqui no Brasil (2016) vai ajudar muito.

CDBV - O que você acha necessário para o goalball ficar conhecido?

MS - Se o nosso esporte for mais divulgado as pessoas vão ter mais interesse. A mídia pode ajudar muito nesse processo.

CDBV - Qual a sua expectativa para a participação da Seleção Brasileira no Parapan de Guadalajara?

MS - Muito boa. Eu espero que o grupo continue com essa união, chegue lá e consiga a vaga para as Paraolimpíadas 2012, em Londres. Não importa ser medalha de ouro. Nós temos que ficar na frente do México (principal adversário do Brasil na disputa da vaga Paraolímpica). Se eles forem prata, nós temos que ganhar o ouro.

CDBV - Sobre as Paraolimpíadas de 2016 aqui no Rio de Janeiro. Qual a sua expectativa?

MS - Vai ser muito bom para o Brasil. Só vai trazer crescimento para o paraesporte brasileiro e acho que as pessoas estão começando a ver os esportes para cegos de maneira diferente.

CDBV - Você pretende disputar as Paraolimpíadas de 2016?

MS - Não sei se ainda vou estar jogando em 2016, já estou com 31 anos. No Canadá as atletas são mais experientes, com 37, 38 anos. Aqui no Brasil a gente procura a renovação. Estamos com três meninas novas na Seleção. Essa renovação é importante para sempre manter a Seleção forte. No fundo me dá uma dorzinha no coração, mas eu sei que elas são o nosso futuro. Eu não vou estar aqui para sempre, o esporte é passageiro na vida da gente. Eu estou tendo o meu tempo, como elas terão o tempo delas, no momento certo.

CDBV
- Pretende continuar no esporte quando parar de jogar profissionalmente?

MS
- Eu não vivo sem o esporte. Quero continuar treinando, mesmo que não seja a nível internacional. Gosto muito de academia. Eu arremesso peso, dardo e disco também.

Márcia e as outras atletas da Seleção ainda terão mais duas etapas de treinamento antes dos Jogos Parapanamericanos, e a próxima fase de treinamento está prevista para começar início do mês de setembro, dia 4, no IBC.




Fonte: Portal Lerparaver