Por Dra. Lívia Carla de Solza Lassar Bianchi
 
Diabetes Mellitus
 
O Diabetes Mellitus (DM) é uma doença metabólica provocada pela interação entre fatores ambientais e hereditários. É estimado pela Organização Mundial de Saúde que existam atualmente, cerca de 180 milhões de pessoas com a doença no mundo. O aumento da expectativa de vida associado aos hábitos alimentares, à obesidade e ao sedentarismo são fatores importantes associados ao aumento no número de casos da doença.
 
A retinopatia diabética (RD) constitui uma das principais complicações do diabetes em conseqüência das alterações microvasculares provocadas, e é a causa mais freqüente de perda visual na faixa etária dos 20 aos 74 anos. Acredita-se que seja responsável por quase 12% do total de casos de cegueira legal (incapacidade para o trabalho) ao ano no mundo. No Brasil, estima-se que 9% das causas de cegueira irreversível sejam decorrentes da retinopatia diabética e de suas complicações.
 
Os níveis elevados da glicemia causam alterações progressivas nos vasos sanguíneos, prejudicando o fornecimento de sangue para os tecidos. Numa tentativa frustrada de promover melhora na circulação do sangue, vasos sanguíneos anormais (neovasos) podem ser formados, além de graves complicações como hemorragia vítrea e descolamento de retina.
 
A retinopatia diabética pode ser classificada em não-proliferativa, quando não há a formação de vasos anormais, ou proliferativa, quando surgem os neovasos. Tanto na forma não-proliferativa quanto na forma proliferativa pode haver edema macular (inchaço da porção central da retina), causado pelo vazamento de líquido através de vasos sanguíneos danificados, e que constitui a principal causa de baixa visão no diabético.
 
A prevalência da retinopatia diabética aumenta com a duração da doença, refletindo as conseqüências da hiperglicemia prolongada. Em geral, não se observam alterações oftalmológicas nos primeiros 5 anos de doença ou durante a puberdade. Em pacientes diagnosticados antes dos 30 anos de idade, a incidência de RD após 10 anos de doença é de 50%, podendo chegar a 90% após 30 anos de diabetes. Acredita-se que em algum momento da vida, metade dos pacientes diabéticos desenvolverá a retinopatia e cerca de um terço terá edema macular. Por apresentar um maior tempo de hiperglicemia, os portadores de diabetes tipo 1 estão mais suscetíveis a desenvolver o tipo mais grave de retinopatia diabética.
 
Os principais fatores de risco para o desenvolvimento e progressão da retinopatia diabética são o tempo de doença (DM), controle glicêmico inadequado, dislipidemia, uso de insulina, hipertensão arterial sistêmica, gravidez, presença de patologia renal e anemia. Esses fatores devem ser controlados para que não ocorra perda visual definitiva. Um paciente com muitos anos de doença pode não apresentar retinopatia, caso controle o diabetes corretamente. Em contrapartida um paciente diabético há poucos anos pode apresentar complicações oculares graves devido ao mau controle glicêmico.
 
A maior parte dos pacientes com retinopatia é assintomática por algum tempo e os sintomas visuais, surgem, em geral, tardiamente. Por este motivo é recomendado que todo paciente diabético seja examinado (exame de fundo de olho) por um médico oftalmologista, à época do diagnóstico do diabetes, e anualmente. Na presença de retinopatia seu médico poderá solicitar exames adicionais que auxiliem na caracterização da doença e no planejamento do tratamento, além de consultas com menor intervalo de tempo, dependendo da gravidade do caso.
 
O tratamento da retinopatia diabética visa impedir a evolução para cegueira. O controle sistêmico da doença, como descrito anteriormente é importante para se evitar o aparecimento e, caso já exista a retinopatia, o seu agravamento. Em pacientes com retinopatia proliferativa ou com edema macular o tratamento preconizado é a fotocoagulação a laser, na tentativa de regredir os neovasos e o edema. Apesar de excelentes resultados anatômicos, em pacientes com doença avançada, pode não haver melhora visual e frequentemente o tratamento busca a estabilização da visão (especialmente em pacientes onde o diagnóstico foi feito em fases avançadas). Em casos mais graves, pode ser realizado o tratamento 
cirúrgico (vitrectomia), especialmente em casos de hemorragia vítrea ou descolamento tracional da retina. Recentemente, têm se utilizado medicamentos intraoculares (terapia antiangiogênica) em associação ao laser, com excelentes resultados.
 
É importante que todo paciente diabético tenha informações adequadas sobre a doença e suas potenciais complicações. Buscar cuidados multidisciplinares e seguir as orientações propostas pelos profissionais de saúde são maneiras de garantir um futuro pleno e com qualidade de vida. A avaliação oftalmológica anual é parte importante destes cuidados e fator fundamental para que a visão seja preservada.